F-22: 158 caças, 412 milhões de dólares cada, e nenhum dia de combate
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Na semana passada, o jornal Los Angeles Times publicou matéria sobre a longa lista de problemas dessa complexa máquina voadora
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É o caça mais caro já construído. Ainda assim, o F-22 Raptor nunca viu um dia sequer de combate, e seu futuro parece obscurecido por uma investigação de segurança realizada pelo governo, que vem deixando o jato no solo por meses.
Desde 3 de maio, a frota de 158 caças F-22 tem se mantido no solo, após mais de uma dúzia de incidentes em que o fornecimento de oxigêncio foi cortado para os pilotos – o mau funcionamento é suspeito de ter contribuído para pelo menos um acidente fatal.
Com um custo estimado de 412 milhões de dólares cada, são praticamente 65 bilhões parados no asfalto da pista. O banimento dos voos é o mais recente e sombrio capítulo para uma aeronave marcada pelos problemas, e cuja utilidade foi posta em questão antes mesmo de seu primeiro voo de teste.
O caça foi concebido durante a Guerra Fria, no início dos anos 1980, para sobrepujar-se a uma nova geração de caças soviéticos nos combates. Mas, com o colapso da União Soviética, os caças temidos pelos planejadores norte-americanos nunca saíram da fase de desenvolvimento. E hoje, enquanto outros aviões de combate dos EUA atacam seus alvos, o F-22 mantêm-se parado. Ele nunca foi usado no Afeganistão. Também não foi chamado para combater sobre o Iraque. E nem sobre a Líbia.
“Por um custo gigantesco, o que temos é um sistema que não podemos usar”, disse Winslow T. Wheeler, um especialista em orçamentos de defesa e um crítico frequente do Pentágono, do Center for Defense Information. “É uma explicação básica sobre como o país se colocou na bagunça financeira em que está hoje.”
Projetado em Burbank e fabricado em Marietta, na Geórgia, o F-22 conseguiu sua aprovação final pelo Congresso em 1991, em parte graças a uma campanha lobista de seu fabricante, a Lockheed Martin Corp. (à época Lockheed Corp.) e de seus aproximadamente 1.1000 subcontratados de 44 estados.
A Força Aérea queria uma maravilha da engenharia, com características imbatíveis. A Lockheed Martin entregou. Os motores do F-22 têm saídas com vetoração de empuxo, que se movem para cima e para baixo, tornando o avião excepcionalmente ágil. O Raptor pode atingir velocidades supersônicas sem utilizar pós-combustores, podendo voar mais longe e mais rápido. Também é equipado com radares e sensores de ponta, permitindo ao piloto identificar, acompanhar e derrubar um oponente antes que ele possa detectar o F-22.
Segundo Pierre Sprey, um engenheiro aeronáutico que ajudou a projetar o F-16 e o A-10, “a Força Aérea colocou tudo nele. O F-22 tornou-se um veículo para carregar uma lista de tecnologias tão grande quanto uma lista de roupas para a lavanderia. O avião é um caso clássico sobre os perigos da complexidade.”
Conforme a USAF (Força Aérea dos EUA) via mais oportunidades para mudar o projeto, mais o F-22 crescia em custos. Quando entrou em serviço em 2005, não demorou para os problemas aparecerem. Em 2006, um piloto ficou preso no avião por horas porque o canopi não abria. Ele teve que ser cortado para a retirada do piloto, e um canopi substiturto custa aproximadamente 71.000 dólares, segundo a Força Aérea.
Em 2007, um erro no programa do sistema de navegação fez com que 12 Raptors dessem meia volta em um voo do Hawaii para Okinawa, no Japão. Seis dias depois, engenheiros corrigiram o problema a um custo que a USAF estimou entre 200.000 e 300.000 dólares.
No ano passado, os caças foram inspecionados em busca de corrosão devido ao “projeto ruim da drenagem no cockpit”, de acordo com um comitê da Câmara. Quatorze F-22 tiveram partes de seus cockpits com corrosão substituídos, segundo a USAF. A corrosão também tem sido um problema para a cobertura furtiva ao radar que, segundo o escritório de contabilidade do Governo dos EUA, “é difícil de lidar e de manter, necessitando de aproximadamente duas vezes mais pessoal de manutenção do que o planejado”.
O caça necessita de aproximadamente 3.000 pessoas para sua manutenção, segundo a USAF, que calcula um total de 45 horas de manutenção para cada hora de voo. Há duas décadas, o Governo planejava comprar 648 Raptors por 139 milhões de dólares cada. O custo praticamente triplicou para os atuais 412 milhões de dólares, conforme o escritório de contabilidade do Governo dos EUA.
O ex-secretário de Defesa Robert M. Gates pôs um fim na compra do avião, para um total de 188 unidades, do qual resta uma pequena parte ainda em fabricação. O acréscimo de 273 milhões de dólares por aeronave pode ser traduzido em 51,3 bilhões perdidos em poder de compra para o programa F-22. Gates disse no Congresso, em 2008, que “a realidade é que estamos lutando duas guerras no Iraque e no Afeganistão, e o F-22 não realizou uma única missão em nenhum desses teatros de operações.”
Autoridades da USAF dizem que o F-22 não foi empregado nesses conflitos porque sua teconologia não era necessária. Eles acrescentaram que todas as aeronaves têm problemas a resolver, e que o F-22 atingiu essa faixa de preço porque é o mais avançado avião de caça, com capacidades sem igual”.
O tenente coronel E. John Teichert, que até recentemente comandou um esquadrão de F-22 na Base Aérea de Edwards, disse que “a aeronave foi projetada para ambientes de alto grau de ameaça, que não são os que estamos vendo no Iraque, Afeganistão e Líbia. Se o F-22 previne que ocorra um conflito militar com outro país, já vale o seu preço.”
Ainda que o F-22 nunca tenha sido visto numa zona de guerra, já acumulou sete acidentes graves com duas mortes – uma delas provavelmente ligada a mau funcionamento do sistema de oxigênio. Jeff Haney, de 31 anos, foi morto na queda de um F-22 numa região selvagem do Alasca em novembro, perto da Base de Elmendorf-Richardson. Uma investigação da USAF está examinando o sistema de oxigênio no inquérito.
Segundo a USAF, a proibição de voos em maio foi fruto de 14 casos desde junho de 2008, em que os pilotos experimentaram mal estar relacionado a um fluxo ruim de oxigênio. A USAF afirmou que a investigação do acidente e dos problemas com o oxigênio “está no momento programada para ser completada e entregue ao secretário da Força Aérea no próximo outono” (que, no Hemisfério Norte, começa na penúltima semana do próximo mês).
Os problemas no sistema de oxigênio levaram o Governo a examinar o F-35, que está iniciando suas entregas e que também é produzido pela Lockheed. O F-35 é menor que o F-22 e será usado tanto pela Marinha quanto pelos Fuzileiros Navais e a Força Aérea. O Pentágono planeja adqurir 2.457 aviões de combate F-35.
John P. Jumper, um general reformado da Foraça Aérea que defende o programa F-22, disse que os problemas do Raptor precisam ser resolvidos logo, para que os caças voltem ao serviço: “É bem problemático. É o tipo de coisa que merece um exame completo, para que nunca mais aconteça.”
FONTE: Los Angeles Times (tradução, edição e adaptação: Poder Aéreo)
FOTOS: USAF (Força Aérea dos EUA)