Por Cesar Bianconi

SÃO PAULO (Reuters) – A Embraer está em uma encruzilhada agora que as outras três grandes fabricantes de aeronaves já decidiram os próximos passos na aviação comercial.

Líder na produção de jatos regionais de 70 a 122 lugares com seus E-Jets, a fabricante brasileira queria saber os planos da Boeing para decidir o rumo que irá tomar.

Na semana passada, a companhia norte-americana revelou que atualizará o modelo 737 com promessa de economia relevante de combustível, mesmo caminho escolhido antes pela Airbus para o A320neo, que terá um novo motor.

A canadense Bombardier, rival mais próxima da Embraer, está desenvolvendo a família CSeries, com aviões de 100 a 149 assentos.
Assim, resta agora uma decisão da Embraer, que enfrenta um ambiente desafiador no mercado com novos rivais da Rússia, China e Japão para seus jatos de 100 passageiros e companhias aéreas mostrando mais interesse por aeronaves maiores.

Entre as opções em análise pela Embraer estão modernizar seus modelos 190 e 195 com novo motor e lançar um avião um pouco maior, que possivelmente competiria com o CSeries da Bombardier, conforme sinalizado pela direção da fabricante brasileira anteriormente.

O analista Joseph B. Nadol, do JPMorgan, acredita que a decisão da Boeing de remotorizar o 737 deve fazer com que a Embraer opte por fazer o mesmo com o modelo 190.

O que está certo é que a Embraer não irá, ao menos desta vez, se propor a desenvolver um produto que rivalize diretamente com Boeing e Airbus, ou seja, uma aeronave para mais de 150 passageiros.

“Acredito que eles (Embraer) são espertos para entender que provavelmente não iriam a lugar nenhum lançando um avião de grande porte”, disse um analista que acompanha a empresa, sob condição de anonimato.

Como relatado por executivos da Embraer à Reuters em ocasiões anteriores, seria um suicídio brigar por mercado com as gigantes norte-americana e europeia. A Boeing e a controladora da Airbus, EADS, têm vendas anuais cerca de 10 vezes maiores que a fabricante brasileira, cada uma.

Além disso, as duas têm forte apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, o que desequilibra as forças.

CONVERSAS COM CLIENTES

É de praxe na indústria aeronáutica que as fabricantes consultem clientes durante os estudos de novos projetos de aviões ou mesmo atualização de modelos já que estão no mercado.

A britânica Flybe -que lançou o Embraer 195, maior avião produzido no Brasil- tem uma grande expectativa de que a fabricante decida equipar os jatos regionais com um novo motor, afirmou o vice-presidente operacional da empresa aérea, Andrew Strong.

“A Flybe tem um grande relacionamento com a Embraer… Estamos sempre compartilhando nossas ideias com a Embraer como parte dessa parceria e olhando à frente para novas tecnologias no mercado de aviação regional para além de 2016. Nós temos a forte expectativa de que um novo motor faça parte disso”, afirmou Strong em resposta por e-mail a perguntas da Reuters.

A Lufthansa também disse estar sempre em contato com as fabricantes de aviões, comunicando “ideias e desejos”.

“Estamos sempre interessados no desenvolvimento sustentável das aeronaves, do ponto de vista econômico e ecológico”, limitou-se a dizer a companhia aérea alemã.

Já a norte-americana JetBlue informou não ter conversas com a Embraer sobre novos produtos. “Estamos concentrados na encomenda atual pelo jato 190, com 49 aeronaves para receber, e no contínuo aperfeiçoamento da frota.”

A brasileira Azul -criada pelo fundador da JetBlue, David Neeleman- afirmou estar bastante satisfeita com os jatos que tem da Embraer, e que está acompanhando as discussões “com muita atenção, por ser operadora”.

O diretor de Comunicação e Marca da Azul, Gianfranco Beting, lembra que de concreto hoje existem apenas os aviões A320neo e CSeries -o 737 com novo motor ainda depende de aprovação da diretoria da Boeing.

“Já manifestamos que num futuro próximo poderemos precisar de um avião maior. Se a Embraer tiver algo para nos oferecer, iremos avaliar”, disse Beting.

ESTUDOS AVANÇADOS

A Reuters apurou que a Embraer tem estudos avançados de projetos de novos jatos comerciais, incluindo avaliações de engenharia, potência, motor e alcance.

Fora a parte técnica, um aspecto relevante é a estrutura financeira envolvida em qualquer desenvolvimento. No caso de uma família nova de jatos, o investimento ficaria na casa do bilhão de dólares.

Na quarta-feira passada, a Boeing disse ter notificado clientes sobre o plano de atualizar o 737 com um motor que deve oferecer economia de combustível de 12 a 15 por cento.

Logo após o anúncio da Boeing, a Embraer afirmou que não falaria sobre o status de seus planos na aviação comercial. Em junho, o presidente-executivo da Embraer, Frederico Curado, disse imaginar que a empresa teria “até o final do ano um direcionamento” sobre o assunto.

FONTE: O Globo /Reuters

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