VANT inovador feito na USP monitora desmatamento em Jirau
Empresa incubada na universidade cria primeiro Veículo Aéreo Não Tripulado nacional que terá certificação da Anac
Pedro Carvalho, iG São Paulo
O currículo de Amianti tem outros “primeiro do Brasil”. Sua empresa – a XMobots, incubada e até hoje localizada na Universidade de São Paulo (USP) – foi a primeira a operar um VANT na região da Amazônia. Isso aconteceu em agosto de 2010, quando começaram a monitorar o desmatamento na hidroelétrica de Jirau para o consórcio que constrói a obra. O modelo Apoena 1000 também será o primeiro VANT brasileiro certificado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – a própria XMobots propôs ao governo o processo de certificação, que entrou em vigor recentemente.
Isso tudo faz parecer que se trata de uma empresa enorme, a maior do país no ramo. Não é verdade. Ela nasceu e ainda vive numa “garagem”, só que universitária. Na verdade, numa constelação de garagens chamada Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), na USP, onde estão incubadas 147 empresas inovadoras, a maioria com foco em tecnologia da informação, biomedicina e “brinquedos” revolucionários como o Apoena 1000. Desde 1998, surgiram ali 398 negócios, que recolheram mais de R$ 53 milhões em impostos – cerca de três vezes o dinheiro públco investido na incubadora, como faz questão de ressaltar o diretor executico do Cietec, Sergio Risola.
95% made in Brasil
Outras duas empresas incubadas no Cietec participam do serviço em Jirau: a Agrofício, que processa as imagens do Apoena, e a Agência Verde, que faz relatórios ambientais. “Estar no Cietec gera esse tipo de sinergia. Só conseguimos o trabalho por conta do contato que temos com essas outras empresas”, diz Amianti.
O Apoena – em Tupi, “aquele que enxerga longe” – faz 8 horas de voo por mês sobre a futura hidroelétrica. Tecnicamente, ele presta serviço de monitoramento de supressão da vegetação, que é feito por quatro empresas. Trocando em miúdos, ele monitora o corte proposital de árvores, necessário para que a obra seja executada. Depois, a XMobots vende as imagens para o consórcio de Jirau, para que ele possa, com bases nos dados, pagar essas empresas.
O contrato com o consórcio de Jirau foi relativamente pequeno, no valor de R$ 150 mil, “apenas para bancar os custos”, diz Amianti. “O interesse maior era entrar no mercado. Nenhum VANT tinha operado na Amazônia; tínhamos a chance de participar dessa prova de fogo”. De fato, a experiência abriu portas: depois de Jirau, passaram a voar em regiões do Mato Grosso e em Sorocaba (SP), monitorando fazendas.
Mas por que Jirau confiou o serviço a novatos? “Pelo preço”, afirma Amianti. Uma operação da XMobots custa entre 50% e 60% do valor cobrado por um concorrente israelense ou americano “E porque tínhamos alternativas, versatilidade”, completa. Ele diz isso porque a maioria das peças usadas no Apoena é feita no Brasil, o que permite adaptação para cada cliente. O índice de nacionalização do avião, calculado sobre preço de venda, é de 95%, maior do que costuma ser nesse segmento.
Deixando o ninho
Em 2010, a XMobots faturou somente os R$ 150 mil de Jirau. Em 2011, a receita projetada é de R$ 1 milhão graças a dois contratos em fase final de assinatura. Assim, 2011 será o primeiro ano “no azul”, pagando em dia seus 12 funcionários – a empresa tem também três sócios. Em 2012, devem faturar R$ 2 milhões, porque os contratos de 2011 se mantêm – e já começam a entrar novos.
A companhia se encontra em processo final de fusão com a AGX, que está há 10 anos no ramo e foi a primeira a operar um VANT no Brasil. As duas têm boa complementaridade, porque a XMotobs é focada no mercado Rural e em Coleta de Imagem, enquanto a AGX é especializada em Ambiental e em Processamento de Imagem. Em três meses, eles devem concluir a fusão – e a XMobots sai do Cietec.
Será um ciclo de incubação universitária que se encerra. E, ao se despedir, a empresa abre espaço para outra ocupar sua “garagem”. Num corredor pouco iluminado, no final de um andar do Cietec, fica a pré-incubação. Nas apertadas salas dessa ala, 29 quase-empresas esperam uma chance de pular para uma garagem oficial. “A gente deixa mais escuro e sem ar-condicionado para eles acharem ruim e terem vontade de trabalhar e sair logo daqui”, diz Risola, em tom de brincadeira. Uma delas pode estar prestes a nascer.
FONTE: iG