Avião não tripulado poderá fiscalizar favelas brasileiras

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MARCELO MIRANDA BECKER

Considerados pelo governo fundamentais na estratégia de monitoramento das fronteiras brasileiras para coibir o tráfico de drogas e armas, dois veículos aéreos não tripulados (Vant) devem entrar em operação no País até o fim do ano. Essa não será a primeira vez que o Brasil utilizará um Vant em ações especiais. Desde 2006, uma versão mais barata da aeronave, de fabricação nacional, é utilizada pela Marinha em ações no Haiti. O sucesso em um ambiente urbano pode representar o primeiro passo de uma verdadeira revolução no setor de segurança pública no Brasil.

Conheça o Carcará, o avião-espião brasileiro

A robustez, a portabilidade e a discrição do Carcará, nome do Vant de apenas 1,6 m de envergadura projetado pela empresa carioca Santos Lab e usado pela Marinha, permitem seu uso futuro em operações policiais nos grandes centros urbanos brasileiros. “Há a possibilidade de que, futuramente, as aeronaves sejam empregadas em ações nas favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, que contam com apoio logístico da Marinha”, adianta o engenheiro alemão responsável pela atualização do projeto brasileiro, Tin Muskardin.

Movido por um rotor traseiro alimentado por três baterias, o Carcará pode voar por até uma hora, enviando imagens de um raio de 15 km, em tempo real, a uma estação de controle portátil, que cabe em uma pequena mochila. “A Marinha usa o Carcará em missão de paz no Haiti para monitorar as favelas, em missões de reconhecimento para acompanhar o que está acontecendo antes de alguma incursão”, relata o engenheiro alemão, que há dois anos trabalha no novo Vant verde-amerelo, o Carcará II. “A segunda versão é desenvolvida respeitando as necessidades da Marinha, ainda está em fase de testes. Ele é um pouco maior – mede 2 m – e tem o dobro de autonomia. Tudo isso pesando apenas 4,3 kg”, afirma.

O Carcará é lançado manualmente pelas tropas e é equipado com câmeras de alta definição e sistema GPS, que permite ao controlador estabelecer previamente a rota, ou alterá-la clicando com o mouse sobre um ponto específico da imagem captada pelo aparelho. A estação de controle, semelhante a um laptop, é uma estrutura robusta e leve, que pode ser levada dentro de navios e veículos em movimento durante a operação. “A estação também pode ser conectada a um GPS, o que permite ao avião reconhecer a movimentação dela e responder aos comandos da mesma forma”, diz Muskardin.

“É possível controlar até quatro aviões ao mesmo tempo com apenas uma estação de controle. Na prática, isso permite a realização de operações contínuas de monitoramento. A autonomia de um avião é só de duas horas, no caso do Carcará II. Depois de uma hora e meia é possível acionar um segundo avião, e fazer o primeiro voltar para fazer a recarga de baterias, mantendo a ação ininterrupta”, diz o engenheiro. “As baterias podem ser recarregadas no carro ou em uma tomada comum. Há ainda a possibilidade de troca da bateria, como ocorre com um aparelho celular, por exemplo”, completa.

Baixo custo é trunfo do modelo brasileiro

O Carcará é vendido em kits com três aeronaves e uma estação de controle, cujo custo varia entre R$ 200 mil e R$ 250 mil, dependendo das especificações dos aparelhos, segundo Muskardin. O Carcará II deve entrar em operação a um preço entre R$ 500 mil e R$ 600 mil cada kit, podendo contar com o emprego de câmeras com zoom ótico e sensor infravermelho.

Em testes com o Carcará II, a Marinha estuda a utilização do Vant na identificação de alvos para serem neutralizados pela artilharia. “No vídeo em tempo real você pode pegar as coordenadas de algum alvo e mandá-las para a artilharia, e o avião fica próximo ao alvo. Após a ação da artilharia, o avião volta ao local e verifica se o alvo foi atingido. Caso contrário, pode repetir o processo”, relata o engenheiro.

O Carcará II possui um sistema inovador que lhe permite um pouso quase vertical, exigindo pouco espaço para a operação. “Tanto o Carcará quanto o Carcará II são desmontáveis, então você chega com uma mochila muito leve em qualquer lugar. Você pode lançar a aeronave manualmente do topo de um prédio e recuperá-lo no mesmo local, o que amplia a área de atuação do Vant”, diz.

Silencioso em decorrência de seu motor elétrico, o Carcará pode ser facilmente confundido com uma ave quando visto do solo. “A cor acinzentada do aparelho foi escolhida justamente para se parecer com o céu, dificultando a visualização por parte do inimigo. A partir de uma altura de 100 m, já não é mais possível ouvir o som do motor”, diz o engenheiro. “Em algumas situações de pouso, mesmo para quem está operando o aparelho tem dificuldades para enxergar o Carcará. É muito difícil vê-lo”, relata.

O tamanho reduzido e o pequeno potencial de estragos provocados por uma eventual queda também contam a favor do Carcará. “O Vant é feito de polipropileno expandido, o mesmo material utilizado na fabricação dos para-choques dos carros. É um material robusto e seguro. Mesmo ao cair, a chance de machucar alguém é muito pequena, muito menor do que a de um avião feito com fibra de carbono ou plástico”, garante.

O modelo que deverá ser empregado nos próximos meses pela Polícia Federal possui semelhanças com o Carcará. É, porém, 10 vezes maior e tem autonomia de voo superior a 40 horas. Os aviões Heron foram adquiridos junto ao governo israelense, que emprega as aeronaves em ações de vigilância em áreas de confronto com palestinos.

FONTE: Terra

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