Mais informações sobre o interesse da FAB no F-7M

30

Em julho de 2010 o Poder Aéreo publicou um artigo sobre a história do interesse da Força Aérea Brasileira (FAB) nos caças de fabricação chinesa F-7M. O artigo foi baseado em uma série de reportagens publicadas pelos principais jornais do país naquela época.

Dentre estas reportagens estava aquela que acabou expondo o tema para a opinião pública nacional. O jornal “O Globo” no dia 28 de janeiro de 1987 publicou em sua primeira página a negociação entre o governo brasileiro e o governo chinês. A história da negociação, bem como o desenrolar dos acontecimentos, pode ser lido aqui no blog (clicar na imagem acima).

Por outro lado, esta é uma história rica em detalhes que, lentamente, começam a aparecer. O jornalista Pedro Paulo Rezende (o “Pepê”), especializado em assuntos de defesa e autor da matéria que expôs todo o caso, escreveu para nós citando mais algumas informações interessantes sobre o episódio.

Leia o post “Quando o MiG-21 quase voou com as cores da FAB” e depois confira as informações a seguir:

Num dia, os chineses me pediram que recomendasse um representante. Obviamente, lembrei-me do Harouche. Num dia, na Embaixada, ele me perguntou:

— Pepê, os chineses têm algo na mesma categoria?

Eu acabara de receber uma revista que falava do F-7M (em mandarim). O senhor Liu traduziu para o espanhol (falava com sotaque chileno) e eu verti para o português. Ainda comentei que tudo era uma loucura. Usando xerox de fotos da revista e uma máquina elétrica ele preparou uma apostila, que encaminhou para o tenente-brigadeiro Camarinha. Foi feito um grupo de estudo que topou! Daí veio um RFI pedindo preços e condições de exportação para 36 unidades. Os chineses responderam:

1. Custo unitário: US$ 3,5 milhões (um F-5E novo valia US$ 8 milhões)
2. Cada avião vinha com duas turbinas
3. Os pilones eram compatíveis com Sidewinder AIM-9 B ou P mas cada avião traria um tanque suplementar e dois mísseis similares ao Magic

A partir desse momento, decidiu-se enviar um grupo de avaliação para voar o aparelho, chefiado pelo coronel Silvio Potengy. O grupo chegou em Chengdu em pleno inverno. Havia um intérprete que falava um excelente português (o nome, se não me engano, era Xi Quing). Além do Potengy, havia um piloto de Mirage IIIEBr que, enquanto se familiarizava com os instrumentos, ejetou o tanque no chão da fábrica. Durante as caminhadas, ficaram surpresos ao descobrir, em um hangar, um F-16ª!

O Potengy gosta de contar que voou o avião com os instrumentos em chinês, mas isso é papo de piloto. Estavam em inglês. A dificuldade maior é que usavam sistema métrico e ele não tinha nenhum conhecimento dos arredores de Chengdu. Os controladores falavam inglês (com UM GRANDE SOTAQUE CHINÊS). […] o piloto de Mirage, depois do voo do Potengy, preferiu apenas endossar o parecer do colega.

O grupo também visitou a fábrica de Nanchang para avaliar o Q-5 Fantan. Ao voltarem ao Brasil, prepararam um parecer que aprovava a aquisição, mas sugeriam algumas mudanças no F-7M:

1. Substituição dos aviônicos GEC-Marconi por Collins
2. Duplicar a carga de mísseis com a substituição dos pilones das asas capazes de receber tanques de combustível por outros com dupla função
3. Substituir o assento ejetável por um Martin Baker Mk10

O radar foi considerado adequado, apesar da pouca área de varredura (se não me engano, 16º em todos os azimutes). Coincidência ou não, os modelos exportados para o Paquistão receberam mudanças similares às sugestões.

Também se preparou um estudo visando a substituição dos Xavantes da Aviação de Caça por caças J-7II com aviônica chinesa. Pediu-se uma cotação para um total entre 70 e 110 aparelhos. A ideia era criar mais um esquadrão em Manaus. Os AT-26 seriam empregados em tarefas de instrução e COIN. Os chineses responderam: mero US$ 1,5 milhão por unidade.

wpDiscuz