Segundo piloto paquistanês, F-16s da PAF surraram Eurofighters britânicos
Militar revela entre outras informações inéditas, que americanos instalaram dispositivos de rastreamento nos F-16 Block 52 do Paquistão
A entrevista com o piloto anônimo de F-16 da Pakistani Air Force (PAF) em intercâmbio com a Força Aérea Turca, foi postada no site oficial do esquadrão de demonstração da PAF e traz muitas informações intrigantes que têm sido debatidas em fóruns na Internet.
ENTREVISTA: Piloto de F-16 da Força Aérea do Paquistão
P1: O que um piloto da PAF faz na Turquia?
R: A Pakistan Air Force (PAF) e a Turkish Air Force (TuAF) têm um programa de intercâmbio de pilotos de longa duração, há mais de duas décadas em que, num dado momento, dois pilotos da PAF estão na Turquia e dois pilotos da TuAF estão no Paquistão. Uma vez que a PAF e a TuAF têm duas aeronaves em comum – o treinador T-37 e o F-16 – ambos os países trocam pilotos de cada um desses aviões. Então, nesse momento temos um piloto da PAF voando T-37 da TuAF e outro piloto voando F-16 na Turquia e um piloto da TuAF voando T-37 da PAF e um piloto da TuAF voando F-16 da PAF no Paquistão.
P2: Quanto tempo é a duração do intercâmbio?
R: O intercâmbio médio é de dois anos, mas pode ser menos ou mais, dependendo de vários fatores.
P3: Qual é a base para a seleção da PAF de um piloto para o intercâmbio para os esquadrões de F-16 da TuAF?
R: A seleção feita pela PAF se baseia exclusivamente no mérito. Eles começam com seus relatórios da Academia e o relatório final é dado pelo seu comandante de esquadrão. A exigência da TuAF é que o piloto deve ter um mínimo de 250 horas no F-16 antes de se juntar aos esquadrões de F-16 turcos.
P4: Qual é o critério da PAF para selecionar um piloto para os F-16 de seus esquadrões?
R: Um piloto deve ter um desempenho notável e um mínimo de 500 horas no F-7 ou Mirage ou em ambas as aeronaves. Além disso, ele deve ter a correta aptidão e capacidade para aprender e aplicar o seu aprendizado. O F-16 não é uma aeronave simples de voar. Normalmente, a maioria dos pilotos vai dos F-7 para os Mirage antes de vir para o F-16. Esta rota elimina os pilotos mais fracos.
P5: Qual caminho você seguiu?
R: Eu fui direto para o F-16 após registrar 450 horas no F-7P.
P6: Em qual esquadrão de F-16 da PAF você estava antes de voar com o intercâmbio da TuAF?
R: Esquadrão Número 9 “Grifos”.
P7: Em quais esquadrões e bases aéreas você voou na Turquia?
R: Eu voei a partir de bases diferentes com esquadrões diferentes em diferentes tipos de F-16 e isso depende da missão de treinamento que está sendo realizada em um determinado momento. Eu servi em duas bases aéreas – Mirzofen e Balekesir.
P8: Quais os tipos de F-16 que você voou na Turquia?
R: Eu voei os três “Blocks” de F-16 da TuAF – Blocks 30, 40 e 50. Fui o segundo piloto de intercâmbio da PAF a voar o Block 50 da TuAF, pois anteriormente os turcos não davam acesso de pilotos da PAF ao Block 50.
P9: Por que isso?
R: Restrições impostas pelos EUA. No entanto, uma vez que as sanções foram suspensas e as negociações começaram para a compra dos Block 52 para a PAF, já não era um problema, pois estaríamos voando uma versão mais avançada do que os turcos. Foi quando os EUA permitiram que os turcos nos dessem acesso ao Block 50. Os turcos têm sido muito cooperativos com a PAF.
P10: Que tipo de missão de treinamento você cumpria nos F-16s da TuAF?
A: Nós somos treinados para todos os tipos de missões desde que a maioria dos F-16 esquadrões da TuAF é multi-função. No entanto, eu era basicamente formado para combate ar-ar no papel de defesa aérea.
P11: Algum treinamento BVR?
R: Sim.
P12: Qual o míssil BVR?
R: O AIM-120 AMRAAM “Charlie”.
P13: Quais são as diferenças nas metodologias de formação entre a PAF e TuAF?
R: Existem diferenças substanciais. A TuAF segue as metodologias de formação dos EUA e da OTAN, onde tudo está escrito e você tem que seguir os procedimentos estabelecidos. Isso não é necessariamente ruim, porque estes procedimentos são baseados na experiência. Eles aprenderam isso depois de sua experiência ar-ar de combate aéreo no Vietnã. No entanto, a desvantagem é que você tende a ficar atolado em procedimentos e você se torna previsível. Na PAF, os pilotos têm mais liberdade para chegar às suas próprias soluções. Nossa abordagem de formação é mais parecida com os israelenses do que com a OTAN. Nós fazemos mais o tipo de voo “seat of the pants” e somos obrigados a ser mais criativos.
P14: Você tomou parte em algum exercício Anatolian Eagle?
R: A PAF tem participado do exercício anual Anatolian Eagle desde 2004. Participei em três Anatolian Eagles – um nacional e dois internacionais.
P15: Qual é a diferença entre o nacional e o internacional?
R: A TuAF realiza exercícios anuais Águia da Anatólia – uma versão é nacional, para a TuAF somente e o outro é internacional, com as forças aéreas amigas. A TuAF honrou a PAF também por deixar seus pilotos voarem no exercício Anatolian Eagle nacional, sob o comando turco e vestindo bandeiras e distintivos turcos. Esta é uma honra singular dada apenas para os pilotos da PAF. Os pilotos de intercâmbio também voam F-16 da TuAF nos exercícios Anatolian Eagle internacionais. Assim pode-se ter 6 pilotos da PAF voando seus próprios F-16 e um piloto de intercâmbio da PAF voando com os turcos num F-16 da TuAF.
P16: Alguma experiência memorável que você gostaria de compartilhar?
R: Em uma ocasião – num dos Anatolian Eagles internacional – pilotos da PAF foram lançados contra os Typhoon da RAF, uma aeronave formidável. Houve três set-ups e em todos os três, derrubamos os Typhoon. Os pilotos da RAF ficaram chocados.
P17: Alguma razão em especial para o seu sucesso?
R: Os pilotos da OTAN não são proficientes em combates ar-ar à curta distância. Eles são treinados para combates BVR e suas táticas são baseadas em combates BVR. Estes foram exercícios de combate aéreo aproximado e tivemos a vantagem, porque combate aéreo aproximado é treinado por todos os pilotos da PAF e isso é algo que nós somos muito bons.
P18: Israel tem participado também em alguns Anatolian Eagles. Alguma oportunidade de voar com ou contra os israelenses?
R: A Turquia garante que a Força Aérea de Israel e a PAF sejam mantidas tão distantes entre si quanto possível e isso tem mais a ver com a relutância da Força Aérea de Israel de fazer parte de qualquer exercício militar envolvendo a PAF e vice-versa. Os israelenses disseram para os turcos que não querem qualquer paquistanês em ou perto de uma base na qual os israelenses estão estacionados.
P19: Os israelenses têm medo de quê?
R: O que eles mais temem é que podemos aprender sobre suas táticas, especialmente táticas de contramedidas BVR, que eles dominam.
P20: Eu ouvi um boato que a TuAF uma vez deu a pilotos da PAF a oportunidade de voar com e contra os israelenses. Pilotos da PAF fingindo ser pilotos turcos – participando até de briefing ACMI turco-israelense?
R: Não há comentários.
P21: Os turcos estão interessados no JF-17?
R: Eles estão intrigados com ele e muito felizes pelo Paquistão ter sido capaz de alcançar.
P22: Alguma chance de eles fazerem encomendas?
R: Não há nenhuma indicação disso. Eles não estão na mesma situação que nós. Sendo membros da OTAN, têm muitas escolhas. Eles estão produzindo o F-16, por isso, enquanto eles estão felizes pelo Paquistão, eu não acho que eles vão comprar o JF-17, pois seus requisitos já são cumpridos pelo F-16.
P23: Que tal substituir seus velhos F-5?
R: Eles provavelmente vão substituir os F-5s com o F-16 e ir para o F-35 como caça high-tech.
P24: E depois da Turquia?
A: Eu vou ser transferido para a base Shahbaz da PAF, em Jacobabad este verão, para a conversão para o Block 52.
P25: Quem fará o treinamento de conversão?
R: A conversão será feita por pilotos da PAF que estão atualmente em formação de conversão nos EUA e voltarão ao Paquistão, em poucos meses.
P26: Você acha que você vai ter uma vantagem sobre outros pilotos da PAF que estão sendo colhidos a partir de esquadrões locais?
R: Não só eu tenho uma vantagem, eu serei responsável pela assistência aos instrutores do Block 52 com base na minha experiência com o Block 50.
P27: Os vídeos disponíveis publicamente e fotografias lançados recentemente pela Lockheed Martin mostram o primeiro F-16 da PAF Block 52 C/D sem tanques de combustível conformais (CFTs). Pode confirmar se as aeronaves da PAF estão vindo com CFTs?
R: Sim. Todos os 18 Block 52 serão equipados com CFTs quando forem liberados para a PAF, o que deverá ocorrer em junho deste ano. Os CFTs são ”add-ons” destacáveis e não é necessário para a PAF sempre voar com eles. Os CFTs podem ser unidos e destacados para atender às necessidades da PAF, em determinado momento.
P28: Uma das histórias por aí é que os F-16 Block 52s estão vindo com restrições: (i) a PAF só pode operá-los em uma base aérea, Jacobabad, (ii) não podem ser utilizados para operações ofensivas para além das fronteiras do Paquistão, ( iii) algum tipo de mecanismo de rastreamento será colocado para monitorar a localização de cada aeronave e (iv) a PAF não pode empregá-los fora do Paquistão sem a permissão dos EUA. Isto está correto?
R: Até certo ponto, sim. No entanto, é importante compreender a fundo a estas condições.
Quando a PAF pediu o Block 52, a reação inicial dos EUA foi “não”. Sua principal preocupação era que, se esta tecnologia potente fosse ser liberada para o Paquistão, mais cedo ou mais tarde, iria acabar nas mãos dos chineses que iriam fazer engenharia reversa. Foi a PAF que ofereceu uma solução. Poderíamos colocar o Block 52 em uma base aérea em separado, onde os chineses não teriam acesso. Isso significou uma base aérea que não tinha aviões chinês. Nós não poderíamos baseá-los em Sargodha porque não negariam o acesso da China à nossa mais importante base aérea. Jacobabad foi uma base avançada que tinha sido renovada pelos americanos para a Operação Enduring Freedom, incluindo uma nova pista de primeira classe, assim foi a primeira escolha. Os EUA concordaram com esta proposta, desde que tivessem o direito de monitorar a aeronave.
Para lembrar uma pequena história interessante: logo após o primeiro F-16 ter sido entregue ao Paquistão, em meados dos anos 80, o Chefe da PLAAF (Força Aérea do Exército de Libertação Popular da China) visitou Sargodha. Os americanos também estavam lá. Como um gesto de cortesia, a PAF mostrou ao Chefe da PLAAF um dos F-16s e o deixou sentar no cockpit. Alguns técnicos dos EUA estavam olhando. Assim que o chefe da PLAAF sentou no cockpit do F-16, a primeira coisa que ele fez foi começar a medir o HUD com os dedos, você sabe, quando você estende o seu dedo mindinho e o polegar para medir alguma coisa? Isso preocupou os norte-americanos.
P29: Quais são os mecanismos de monitoração? Ouvi dizer que vai ter pessoal dos EUA estacionado em Jacobabad?
R: O pessoal dos EUA estacionado em Jacobabad será transitório. Eles estarão treinando o pessoal da PAF na manutenção do Block 52. A maioria desses funcionários dos EUA será da Lockheed Martin. Os EUA não precisam ter pessoal fisicamente presente em Jacobabad para acompanhar os Block 52.
P30: Você poderia explicar melhor?
R: Eles têm maneiras de manter um olho no Block 52, sem estar pessoalmente presente. A principal preocupação é a transferência de tecnologia de ponta – os aviônicos e radar, o Joint Helmet Mounted Cueing System (JHMCS) e o pod Sniper. Eles colocaram selos digitais em todas as tecnologias sensíveis, que só podem ser abertos através de um código, que só eles sabem. Se houver uma avaria ou esses componentes precisarem ser reparados, eles serão retirados do Block 52 e enviados de volta para os EUA para reparos/manutenção. Se tentar forçar a abertura desses sistemas sem os códigos, alarmes internos serão repassadas para os americanos, o que levará a uma violação do contrato.
P31: Será que os americanos podem acompanhar as posições dos Block 52s por algum tipo de dispositivo de rastreamento escondido dentro do avião?
R: Se houver dispositivos de rastreamento, então eles vão estar dentro de sistemas fechados, como os aviônicos ou os pods Sniper, porque não teremos a capacidade de olhar dentro. Se os drones Predator e Reaper estão transmitindo suas posições GPS via satélite, isso pode acontecer com um F-16 Block 52.
Mesmo para a Turquia que produz o F-16, existem alguns componentes que são fabricados nos EUA e só vem para a Turquia para a montagem final. Em um incidente, um F-16 Block 50 turco caiu e o piloto faleceu. Eles recuperaram os destroços e o colocaram num hangar e começaram a colocar juntos os pedaços para descobrir a causa. Eles encontraram um pedaço de equipamento fechado, que tinha quebrado e dentro havia um dispositivo que parecia um inseto. Após investigação, descobriu-se que era um dispositivo de rastreamento.
P32: Isso não preocupa a PAF?
A: Eu tenho certeza que sim. No entanto, a PAF considera o Block 52 uma aeronave “bônus”. Nós não estamos dependendo dele para a nossa defesa aérea inteira. É um multiplicador de força temporário até que tenhamos o suficiente de esquadrões de JF-17 e FC-20. A oportunidade de conhecer o que há de mais recente em tecnologia é capaz de justificar suficientemente a aquisição destes aviões.
P33: Se a PAF não pode atravessar a fronteira com esses Block 52, qual é a finalidade dos pods Sniper e as munições ar-terra que estamos recebendo?
R: Esses equipamentos são para usar contra os terroristas que estão travando uma guerra contra o Paquistão. O fato é que os Block 52s nos darão a capacidade de montar operações bem sucedidas contra os terroristas em áreas tribais.
FONTE: www.paffalcons.com
LEIA TAMBÉM:
- Tradução da palestra do Coronel Terrence Fornof da USAF – 1a. parte
- Tradução da palestra do Coronel Terrence Fornof da USAF – 2a. parte
- A evolução dos caças num quarto de século – do F-100 ao F-18
- Promessa e realidade: o combate ar-ar BVR
- Promessa e realidade: o combate ar-ar BVR – parte 2
- Combates aéreos: F-14 versus Su-22
- John Boyd, o piloto de caça que mudou a arte do combate aéreo
- John Boyd, o piloto de caça que mudou a arte do combate aéreo – parte 2
- John Boyd, o piloto de caça que mudou a arte do combate aéreo – parte 3