Carla, a primeira brasileira a pilotar um caça a jato
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Aos 28 anos, tenente-aviadora da FAB realiza sonho de infância, quando pedia à família para ir ver os aviões no aeroclube de Jundiaí
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“Minha tia me levava para feiras de aviação desde que eu tinha cinco anos e eu pedia para ver os aviões no aeroporto nos fins de semana”, conta ao retornar de um voo de instrução de combate na Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. “Meu quarto era cheio de pôsteres e miniaturas de aviões. Quando eu pilotei sozinha um caça a jato pela primeira vez, realizei um sonho.”
Até o início de outubro, Carla deve concluir o curso de aviação de caça de primeira linha, como são classificadas as aeronaves A-1 – especializadas em ataques a alvos em solo, com velocidades de até 900 km/h e capazes de carregar mísseis e munição 30 mm. Com uma preparação de oito anos em quatro cidades, conquistou a função de líder de esquadrão de caça.
“Os únicos tratamentos diferentes que ela recebe são um vestiário e um banheiro próprios”, declara o Major Martire, subcomandante do esquadrão de que Carla faz parte. A piloto confirma que recebe a mesma cobrança que seus colegas homens, apesar dos brincos de brilhantes que usa debaixo do capacete.
“Mesmo sendo um ambiente masculino, eu não perco a feminilidade”, diz, rindo. “Eu recebo um tratamento profissional tanto no voo como no solo e me sinto como qualquer outro piloto em formação.” Carla fez parte da primeira turma da Academia da Força Aérea que passou a aceitar mulheres entre seus integrantes. Em 2002, desistiu de tentar ingressar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), passou no concurso da Academia da Força Aérea (AFA) e mudou-se para Pirassununga, a 160 km de Jundiaí.
“Eu fazia cursinho para entrar no ITA porque eu queria fazer engenharia aeronáutica, mas quando abriram concurso para mulheres na AFA, prestei e passei para a primeira turma”, conta. “Foram 20 mulheres na minha turma. Onze se formaram e três escolheram pilotar caças.”
Cerca de 100 aviadores se formam por ano na AFA. Carla passou quatro anos em Pirassununga, onde pilotou o Neiva T-25 e o T-27. Das três mulheres que pilotam caças na FAB, Carla foi a primeira a realizar voos solo com aeronaves a jato, “considerados aviões de primeira linha”. As outras duas pilotos comandam turboélices Super Tucanos, em Campo Grande.
“Voar em um caça a jato dá uma sensação enorme de liberdade. Eu estava muito ansiosa, porque batalhei muito, me preparei e me dediquei para chegar até lá”, diz Carla.
Pilotos de aeronaves de primeira linha participam de treinamentos intensos e constantes, com o objetivo de aperfeiçoar manobras, reflexos e rotas. Aviões potentes, como o A-1, exigem planejamento detalhado antes de cada voo, pois a velocidade exige decisões rápidas de seus comandantes, que são inundados por adrenalina durante os voos e chegam a enfrentar uma força G (provocada pela aceleração da aeronave) que chega a 6 vezes o peso do próprio corpo.
FONTE / FOTO (T. Marcelo/AE): Estadão (reportagem de B. Boghossian)
NOTA DO EDITOR: apesar do voo da Tenente Carla Alexandre Borges já ter sido assunto de outras matérias no Poder Aéreo, vale a pena ler esta reportagem mais recente para pinçar alguns detalhes que a mesma traz: as poucas necessidades diferenciadas em relação à maioria de pilotos homens (vestiário e banheiro); a menção a duas outras oficiais aviadoras que voam caças na FAB, no momento em esquadrões equipados com o A-29; e o histórico da carreira da oficial, que mostra a sistemática da FAB para a carreira dos oficiais aviadores na caça, rumo à primeira linha – um percurso que para a tenente começou no concurso em 2002 para entrar na AFA, pelos voos no T-25 e o T-27 em dois dos quatro anos da Academia, e depois nada menos que 4 anos em aeronaves A-29, em que primeiro os oficiais aviadores formam-se como ala de esquadrão de caça, depois como líderes, e também acumulam horas de voo em condições operacionais, para enfim chegar à primeira linha, em 2011.
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