Corte de R$ 4 bi no Ministério da Defesa agravará o sucateamento das Forças Armadas

 

Assinado com pompa pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, há pouco mais de dois anos, o Plano de Defesa Nacional que previa uma estratégia de modernização das Forças Armadas pelos próximos 50 anos teve o primeiro revés, muito antes do esperado.

Pelo documento, o reaparelhamento militar brasileiro seria voltado para a compra de caças de combate com transferência de tecnologia e a construção do submarino de propulsão nuclear para patrulhar a costa brasileira. O corte de R$ 4 bilhões anunciado pelo governo para a área de Defesa colocou uma incógnita justamente sobre o cronograma previsto para esses planos e irritou profundamente os militares.

Para especialistas em segurança nacional, a tesoura anunciada pelo governo federal torna dramática a situação de sucateamento das Forças Armadas brasileiras. Atrasada desde a década de 1990, a aquisição dos caças responsáveis por substituir uma frota hoje composta por pelo menos três modelos de aviões corre sério risco de não sair do papel ainda em 2011.

A situação mais urgente é a dos caças Mirage 2000, que serão aposentados até 2015. A atual frota de cinco submarinos, que deveria receber o reforço de mais quatro embarcações convencionais e uma nuclear até 2022 pelo Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), também seria insuficiente para as necessidades do país em um curto espaço de tempo, especialmente com o início da exploração do pré-sal.

Treinamento

Em um primeiro momento, além da construção dos submarinos e da compra de caças, também entrou em estado de espera a modernização das aeronaves AMX e o desenvolvimento dos aviões de carga KC-390 da Embraer. Como a tesoura atinge principalmente investimentos e custeio, a consequência imediata será a diminuição das horas de voo destinadas ao treinamento das tripulações, em especial as mais custosas, tal como as dos pilotos de caça.

 “A situação é delicada tanto no caso dos submarinos quanto na dos caças. Boa parte dos aviões atuais estará aposentada em, no máximo, quatro anos e um contrato para compra de novos costuma demorar pelo menos dois anos para o início das entregas”, aponta o professor de Relações Internacionais da FAAP-SP e especialista em Segurança Nacional pela Georgetown University, Gunther Rudzit.

Como a compra dos caças só entraria no orçamento do ano que vem, muitos militares creditam somente às pressões políticas o atraso na definição do modelo vencedor — embora não exista clima para aprovar compras desse tamanho, em meio a um corte de R$ 50 bilhões no orçamento. “O contingenciamento não afetará objetivamente o Programa FX 2, visto não serem previstos dispêndios no ano-base 2011. Os motivos do adiamento, na minha opinião, têm fundamento em motivações políticas. Não seria politicamente correto decidir um investimento da ordem de bilhões de dólares em época de aperto de cinto”, critica um oficial da reserva.

FONTE: Correio Braziliense (reportagem de Ivan Iunes), via Notimp

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