A Arábia Saudita deverá adquirir 84 novos caças-bombardeiros F-15SA, assim como modernizar  aproximadamente 70 F-15S para o mesmo padrão. Essa compra, de mais de 29 bilhões de dólares, representa praticamente metade do que o país deverá gastar nos próximos cinco a dez anos em armas fornecidas pelos Estados Unidos, conforme notificação ao congresso dos EUA feita pela DSCA (Defense Security Cooperation Agency) no final do ano passado. São 60 bilhões de dólares no total, representando o maior acordo já feito pelos EUA para venda de armamento a um outro país.

Segundo reportagem da Arabian Aerospace, a Força Aérea do Reino da Arábia Saudita (RSAF) tem vivenciado um longo e, em geral, feliz relacionamento com o Boeing F-15. No total, a RSAF recebeu 75 F-15C de superioridade aérea e 23 treinadores bipostos (porém totalmente capacitados para operações) F-15D. Além deles, os caças-bombardeiros bipostos F-15S Strike Eagle formam o elemento principal do poder de ataque da RSAF desde meados dos anos 90,em esquadrões da base de Dhahran e de Khamis Mushayt.

Apesar do F-15S ser um caça multi-role/swing-role (multitarefa, podendo mudar de missão em voo) a RSAF não explorou ainda seu potencial ar-ar. Porém, com aproximadamente 78 F-15C e D mostrando sua idade, e com a RSAF incrementando sua dotação de plataformas multimissão, substituir esses aviões com mais Strike Eagles vem se tornando uma opção atrativa.

Daí a notificação para aquisição de  84 caças-bombardeiros F-15SA ‘Saudi Advanced’ assim como para modernizar os 70 F-15S multitarefa para a mesma configuração do F-15SA. O acordo também cobre um esquadrão de treinamento baseado nos EUA, com 12 dos novos F-15SA, assim como diversos programas de construção de infraestrutura e manutenção para apoio às operações dos F-15SA na Arábia Saudita.

Após o lançamento da configuração “Silent Eagle” pela Boeing, em março de 2009, tornou-se claro que a Arábia Saudita estava interessada na nova versão, embora não se saiba até que ponto o novo F-15SA terá algumas ou todas as características do Silent Eagle, em especial, modificações estruturais e de materiais que reduzem a assinatura radar e as baias de armamento conformais (conformal weapons bays – CWBs), que substituem os tanques de combustíveis conformais “padrão” do Eagle (conformal fuel tanks – CFTs).

Como deverá ser o F-15SA

Descartam-se especulações anteriores de que o F-15SA seria um derivado “downgraded” (com características inferiores) do F-15K ‘Slam Eagle’, da Coreia do Sul.  O F-15SA, pelo contrário, deverá ser o mais avançado e capaz da família quando entrar em serviço. Será a primeira variante a receber o sistema de guerra eletrônica digital (digital electronic warfare system -DEWS) da BAE Systems North America, originariamente proposto para o F-15SE Silent Eagle; O sistema combina e integra receptor de alerta radar, transmissor de jameamento digital, dispensador de contramedidas integrado e um sistema de interferidor que cancela emissões, de forma tão eficiente que a aeronave poderá “jamear” radares inimigos mantendo seu próprio radar e receptor de alerta radar operando.

Também estão na lista de equipamentos do F-15SA os pods de  terceira geração LANTIRN Tiger Eye (navegação) e AN/AAQ-33 Sniper (designação de alvos) , assim como recptores de vídeo operados remotamente (ROVER), que permitem comunicação constante com forças terrestres. Mísseis antinavio AGM-84 Block II HARPOON (400 unidades) antiradar AGM-88B HARM (600 unidades), além de milhares de unidades das bombas guiadas por laser e  GPS Paveway IV, de 500 libras e de 2.000 libras, GBU-24 PAVEWAY III guiadas a laser, GBU-31B V3, dispensadores CBU-105D/B, outras milhares de bombas “burras” Mk 82 e Mk 84 e mais de 200.000 munições de 20-mm (sem falar nos 400.000 cartuchos de 20mm para treinamento e armas inertes CBU-105, às dezenas, e Mk 82 e Mk 84s, aos milhares).

Também faz parte do “pacote” dos F-15 SA  462 capacetes com mira no visor e 338 sistemas de mira correlatos ( joint helmet-mounted cueing systems – JHMCS), 500 mísseis ar-ar de médio alcance AIM-120C7 (AMRAAM), 300 AIM-9X de curto alcance, mísseis e sistemas de treinamento de manobras de combate.

A frota atual será praticamente dobrada quando os  84 novos F-15SAs equiparem três esquadrões de linha de frente, o que se espera que ocorra por volta de 2020. Levando em conta aeronaves novas e modernizadas, serão 154 F-15 SA no total, cumprindo missões multitarefa (defesa aérea, interdição, reconhecimento, antinavio). Eles farão companhia, nessa época, a três esquadrões com 72 Eurofighter Typhoons, (que a partir de 2015 deverão, além da superioridade aérea, realizar missões ar-solo).

Considera-se que o acordo dos F-15SA representa uma “normalização” das relações entre a Arábia Saudita e os EUA, que não estavam tão boas nos últimos anos (quando se revelou que 15 dos 19 envolvidos nos atentados de 11 de setembro tinham nacionalidade saudita).

“Não comprei o F-15 para ter que voá-lo como um F-5” – Um pouco de história recente dos “Eagles” da Arábia Saudita, com a controvérsia dos motores.

O lote original dos F-15S da Arábia Saudita foram originariamente entregues com motores Pratt & Whitney F100-PW-229, mas estes se mostraram problemáticos, ingerindo a areia fina do ar, que derretia na sessão quente dos motores. Quando eles esfriavam, a solidificação do material tornava-se vidro na barreira térmica da sessão, estragando sua cobertura.

A Pratt & Whitney recomendou, como melhor solução, reduzir os ajustes de temperatura e de empuxo. O Ministro de Defesa e Aviação, Príncipe Khaled, respondeu: “Não comprei o F-15 para ter que voá-lo como um F-5″. A Arábia Saudita então procurou a Gerneral Electric e todos os seus Eagles foram remotorizados com o F110-GE-129 da empresa, que não sofria o mesmo problema. A Pratt & Whitney comprou de volta seus motores.

FONTE: arabian aerospace (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo. Título original: “Record arms deal helps repair US relationship with Saudi”)

FOTOS: Boeing

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