Tejas: turbulência à frente
O caça a jato indiano Tejas, desenvolvido localmednte, finalmente foi liberado para operações. Mas, segundo reportagem divulgada pela AFP nesta quinta-feira, 20 de janeiro, analistas dizem que qualquer celebração da entrada da Índia no seleto clube de produtores de “hardware” militar é prematura.
A aprovação inicial para operação do LCA (Light Combat Aircraft – avião de combate leve) Tejas levou 26 anos. – resultado de atrasos de desenvolvimento sem fim, engasgos tecnológios e aumentos massivos de custos. Concebido inicialmente como um substituto direto para a envelhecida frota de caças MiG-21 de fabricação russa, operados pela Força Aérea Indiana (e que ganharam o apelido de “caixões voadores” devido a seu histórico de acidentes), o LCA foi saudado como um marco nas intenções da Índia em reduzir sua dependência de importações militares.
Mas, segundo a reportagem da AFP, apesar de concebido, projetado e montado na Índia, sua etiqueta de “nacional” é um tanto equivocada, dado que 40 % de seus componentes é fabricado fora do país, incluido o motor, proveniente dos EUA, e o radar.
A introdução formal do Tejas em serviço ainda vai levar dois ou três anos, e permanecem questões sobre sua real adequação. Segundo Ajey Lele, pesquisador do Instituto para Estudos de Defesa e Análises de Nova Déli, “somente após o avião ser colocado em uso pelos seus pilotos ele será fortalecido e suas limitações se tornarão claras. Os requerimentos peculiares de segurança da Índia demandam uma força aérea muito capaz, com plataformas e sistemas de armas no estado da arte. Evidentemente, o Tejas terá que atender a altas expectativas.” O especialista em aviação militar Kapil Kak afirma que “é cedo demais para estourar a champanhe”, acrescentando que a encomenda de motores para uma segunda deração do Tejas poderia se tornar uma dor de cabeça para a Índia.
Quando aceitou o certificado de liberação operacional inicial (IOC) do LCA na semana passada, o Comandante da Força Aérea Indiana, Marechar do Ar P.V. Naik, parecia pouco entusiasmado. Ele destacou que o avião era, na verdade, um “Mig-21, plus, plus”, e não um caça de quarta geração como concebido. Ele acrescentou que “há algumas áreas onde ainda é necessário trabalhar. Há aspectos que precisam ser melhorados. Nós esperamos muito tempo pelo Tejas. Não queremos uma plataforma incompleta.”
Segundo a AFP, de um orçamento inicial de 5,6 bilhões de rúpias (123 milhões de dólares), o custo do desenvolvimento do caça cresceu como uma bola de neve ao longo dos anos, chegando a 180 bilhões de rúpias. Apesar de reconhecer o histórico problemático do Tejas, o ex-chefe do estado maior da marinha, hoje à frente do “think tank” Fundação Marítima Nacional, Arun Sharma, disse que o projeto ainda assim deveria ser aplaudido por vencer enormes desafios. Um desses desafios foi a imposição de sanções, pelos Estados Unidos, como consequência dos testes nucleares realizados pela Índia em 1998, o que deixou tecnologias críticas fora de alcance e contribuiu para os atrasos.
Para John Siddharth, analista de defesa para o Sul da Ásia junto àFrost & Sullivan, a Índia teria aprendido lições proveitosas da experiência, muitas vezes dolorosa, do projeto LCA: ” A produção local ajudará as empresas a serem interdependentes em sistemas de armas, e o desenvolvimento bem-sucedido do programa Tejas certamente impulsionou as perspectivas para empresas aeroespaciais indianas.”
Em 2009, a Índia lançou seu próprio submarino nuclear, o Arihant, também sob aplausos e discursos sobre a crescente autosuficiência militar do país. Mas, assim como o LCA, o Arihant aindatem muitos anos e árduos testes pela frente, antes de ser incorporado às Forças Armadas.
Enquanto isso, a dependência da Índia em relação a produtos estrangeiros parece continuar. Em julho, deverá ser finalizada uma concorrência para a aquisição de 126 caças a jato, a um custo estimado de 12 bilhões de dólares, disputada por seis gigantes aeronáuticos globais, incluindo empresas dos EUA, França, Europa e Rússia. E, no mês passado, foi assinado um acordo com um tradicional fornecedor, a Rússia, para a produção conjunta de até 250 caças furtivos avançados, com custos estimados de 25 bilhões de dólares, segundo especialistas.
FONTE: AFP, via Google news – tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo
NOTA DO BLOG: comparar as afirmações de analistas e do Comandante da Força Aérea Indiana com as respostas da entrevista de Pinjala Siva Subramanyam, diretor da ADA, organização co-responsável pelo desenvolvimento do Tejas. A entrevista está no primeiro link da lista abaixo (lista que vale a pena consultar para entender outros aspectos do desenvolvimento do projeto).
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