Lembranças do ‘F-X1′, via WikiLeaks – parte 1

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Viegas teria se mostrado surpreso com liberação do AMRAAM pelo Governo dos EUA e com disponibilidade de caças F-16 holandeses usados

Nesta terça-feira, 18 de janeiro de 2010, foi disponibilizado pela Folha de São Paulo mais um texto em inglês, via WikiLeaks, sobre o programa F-X, precursor do atual F-X2 para a aquisição de novos caças para a FAB.  Vários pontos são interessantes, especialmente a parte 4, sobre a aparente surpresa do então Ministro da Defesa, José Viegas, com a liberação do míssil AMRAAM por parte do Governo dos EUA, e com a disponibilidade de caças F-16 usados holandeses.  O documento tem data indicada de 12 de março de 2004.

Segue a tradução, adaptação e edição do texto, feita pelo Poder Aéreo:

Programa F-X do Brasil: não importa quem ganhe, o Ministério da Defesa apoia a Embraer

1. Apesar de nenhum anúncio ter sido feito sobre a seleção para o novo caça de alto desempenho da Força Aérea Brasileira (FAB), o F-X, o Governo Brasileiro poderia estar preparando o palco para uma decisão na compra dos 12 aviões. Na competição do F-X, Embraer está atualmente em parceira com a Dassault, oferecendo o Mirage 2000-5.

De acordo com uma nota do jornal “O Globo”, o Ministro da Defesa José Viegas disse para uma plateia de empresários que a Embraer, gigante brasileira da aviação, “será contratada para fornecer serviços específicos” para o consórcio vencedor,  não importando qual o resultado da competição, e mesmo que perca em sua proposta conjunta com a Dassault.

2. A seleção do F-X será feita pelo Conselho Nacional de Defesa na presidência, que já recebeu dados técnicos do Ministério da Defesa. O Governo Brasileiro deixou passar diversos prazos finais autoimpostos para uma decisão sobre o F-X, e a espera poderia ser ampliada ainda mais. 

Discutindo programas prioritários do Ministério da Defesa, o Ministro Viegas disse em 8 de março ao jornal Gazeta Mercantil, de São Paulo, que uma decisão sobre o F-X “será tomada neste ano”, uma afirmação que dá pistas de que um anúncio pode não ser feito em breve.  

3. A Lockheed Martin desistiu de sua tentativa de fazer uma parceria com a Varig Engenharia e Manutenção (VEM). A VEM, que é uma subsidiária da Varig, não foi receptiva ao programa proposto pela Lockheed Martin para oferecer F-16 reformados.

Observadores concordam que os atuais problemas financeiros da Varig, assim como seu “epiléptico” esforço para fundir-se com a rival TAM, forçaram a VEM a permanecer à margem do processo. Enquanto a oferta de F-16 da Lockheed Martin permanece no F-X, a empresa carece de um parceiro brasileiro forte na competição, e isso parece limitar suas perspectivas.

4. Em uma conversa de 10 de março, em visita ao CJCS General Myers, o Ministro Viegas comentou que a oferta melhor e final ( best and final offer – BAFO) para novos F-16 deixou nele a impressão de que a empresa “não era séria” sobre ganhar a disputa. 

O Ministro também expressou preocupação sobre restriços impostas pelo Governo dos EUA no caso do Brasil comprar sistemas de armas dos Estados Unidos, especialmente o míssil AMRAAM, e pareceu surpreso quando lhe foi dito que o Governo Brasileiro havia recebido, por escrito, a garantia do Governo dos EUA de que o AMRAAM está disponível sem restrições.

O Ministro também pareceu surpreso sobre o fato da Holanda ter disponibilizado recentemente, por apenas 8 milhões de dólares cada, caças F-16 usados e reformados, comparáveis  a aviões novos em desempenho.

5. Comentário: Embora o programa F-X, estimado em 700 milhões de dólares, ainda assuste pelo preço, não há indicações nesse momento que o Ministro da Defesa irá baixar suas aspirações, indo de caças novos para usados.

Mas duas tendências parecem evidentes: que o Governo Brasileiro pode estar adiando uma decisão por questões orçamentárias ou outras, e que o eventual vencedor da competição deverá dar à Embraer um pedaço do bolo.

FONTE: Folha de São Paulo (clique no link para ver o texto original, em inglês)

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