A formação de caçadores: o próximo passo
Todos os aviões de treinamento da FAB já passaram dos 25 anos de idade. Ainda que seja possível que essas “airframes” tenham ainda alguns anos a mais de vida, a qualidade do treinamento obtido com eles já é discutível, mesmo se considerarmos apenas a necessidade de treinamento para as aeronaves de primeira linha atualmente em serviço. Para as novas aeronaves, que deverão entrar em serviço nos próximos 10 anos, não há a menor dúvida de que o treinamento ministrado atualmente será insuficiente e inadequado.
Nenhuma manifestação foi feita pela FAB, indicando que uma procura para compra de novos treinadores ou modernização dos atuais será perseguida em curto prazo, entretanto não há dúvida de que o assunto começará a ser tratado brevemente.
Não se antecipa que os futuros treinadores devam ser capazes de proporcionar qualquer novo treinamento relacionado à pilotagem, pois isto não é requerido pelas atuais aeronaves ou será requisito pelas futuras aeronaves operacionais, entretanto elas possuem inúmeras características que já demandam vários tipos de treinamento específicos para os quais os treinadores atuais não são adequados.
Tanto o manuseio dos novos instrumentos, quanto a interpretação dos novos símbolos de apresentação dos dados nesses instrumentos deve ser aprendido, de preferência, já no primeiro treinador.
À medida que o piloto em formação avança no programa de treinamento passando pelos estágios básico, avançado e operacional, novos treinamentos como: novos procedimentos de navegação e aproximação de uso pela aviação civil, navegação operacional a baixa altura, uso do enlace de dados, emprego de equipamentos de visão noturna, reabastecimento em vôo e manobras com alto G devem ser feitos. Não será aceitável esperar para que estes treinamentos sejam obtidos na aeronave operacional que, provavelmente, não terá uma versão com dois lugares devido ao custo no caso das aeronaves de caça e ao custo operacional das aeronaves de transporte o que tornará impraticável longos programas de treinamento em vôo dessas aeronaves.
É certo que, no futuro, o avião será mais um dos vários meios de treinamento, o mais importante de fato, junto com os outros como: dispositivos para treinamentos de procedimentos, dispositivos avançados de treinamento baseados em computador e diversos tipos de simuladores, que apesar de não terem a mesma importância do avião serão de valor inestimável. É de se esperar que o treinamento virtual seja quase tão importante quanto o real exigindo uma visão sistêmica de todo o processo que envolve a formação dos pilotos.
O objetivo final do processo de treinamento da Força Aérea é a seleção e a formação de pilotos operacionais nas várias aviações que compõem a Força. A necessidade da seleção é um ponto importante a ser sempre lembrado, pois a pilotagem militar, seja dos aviões de caça ou de transporte, sempre será uma atividade para uma elite de pilotos. O piloto militar tem que ser capaz de pensar e agir sob a pressão típica das ações militares além de desenvolver sua capacidade de liderança.
A estrutura do sistema de treinamento do futuro poderá ser muito similar à estrutura atual, entretanto veremos uma utilização cada vez maior dos dispositivos de treinamento simulado.
O sistema de treinamento será um sistema de sistemas: um sistema de treinamento inicial ou primário adequado para a primeira seleção (initial screening), muito importante para evitar gastos com pessoal que poderá ser cortado mais tarde; um sistema de treinamento básico/avançado onde o candidato a ser piloto militar adquire e desenvolve conhecimento e habilidades típicas da pilotagem militar e, por último, um sistema de treinamento operacional.
Para maximizar a eficiência dos sistemas de treinamento eles necessitarão estar perfeitamente integrados e alinhados de modo que na fronteira de cada sistema o treinando tenha adquirido todo conhecimento e habilidade que o prepare para terminar a fase seguinte. Além disso, todo o treinamento típico da fase posterior que possa ser executado com os meios da fase anterior deverá ter sido feito. Por exemplo: se o treinamento de vôo por instrumentos pode ser feito usando os meios de treinamento da fase primária é nesta fase que ele deverá ser executado.
É necessário que cada sessão e cada manobra tenham o seu propósito bem definido; sejam bem detalhadas; o nível de aprendizado/desempenho do aluno, o método de avaliação e os critérios para aprovação sejam bem estabelecidos. Considerando que tal sistema de sistemas de treinamento deverá contemplar as necessidades da aviação de caça, das outras aviações que usam aviões de transporte ou similares e a aviação de asas rotativas é de se esperar que a Força Aérea tenha uma enorme tarefa a executar nos próximos anos.
Um avião de treinamento, a ser adquirido, que deverá causar uma competição tão acirrada quanto o FX-2 será no futuro treinador operacional. Com a aposentadoria do AT-26 a FAB deverá voltar sua atenção para a obtenção de um substituto num prazo bem curto. Certamente ela não irá optar pela seleção dos pilotos de caça e pelo treinamento de combate nas suas aeronaves de primeira linha, isto seria pouco eficiente e custoso.
As primeiras competições para este avião já estão sendo vistas. Temos o British Aerospace Hawk 128 sendo usado pela RAF, o Locheed/Korean Aerospace Industries T-50 em uso pela Força Aérea Sul Coreana e o Alenia Airmacchi M-346 que parece ser o candidato para um programa de treinamento avançado europeu. A escolha técnica de um destes aviões não será muito fácil, pois suas capacidade são semelhantes e possivelmente deverá, mais uma vez, ser uma escolha de um parceiro tecnológico e comercial.
FONTE: Administradores.com, via Notimp
NOTA DO BLOG: veja nos links abaixo algumas das diversas matérias já publicadas pelo Poder Aéreo sobre o assunto:
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