Alex Ribeiro

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos ainda não decidiu de quem vai comprar até 200 aviões turboélice de combate, mas a Embraerjá está se preparando para o caso de ganhar esse contrato bilionário. A empresa obteve da autoridade aeroportuária da cidade de Jacksonville, na Flórida, uma opção para alugar um hangar para montar os aviões em território americano e já assegurou benefícios tributários para o projeto.

O governo americano deve escolher até junho o fornecedor dos aviões que serão usados sobretudo no combate ao tráfico de drogas em países como a Colômbia. O avião Super Tucano da Embraer é uma dos fortes candidatos a esse contrato, que pode oscilar entre valores de US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões.

A Embraer está impedida de comentar os seus planos para a Flórida, devido a cláusula de confidencialidade assinado com autoridades locais, mas o Valorconfirmou os detalhes mais importantes do projeto com o grupo de desenvolvimento econômico da Câmara de Comércio de Jacksonville, que trabalhou no encaminhamento do pedido de benefícios fiscais.

“É um pouco mais difícil para uma empresa estrangeira, mesmo para quem tem uma subsidiária nos Estados Unidos como a Embraer, competir num contrato como esse”, afirma Jerry Mallot, vice-presidente da Câmara de Comércio de Jacksonville. “Entre outras exigências, a empresa deve montar as aeronaves nos Estados Unidos.”

O principal concorrente da empresa brasileira – fabricante de aeronaves comerciais, jatos executivos e aviões de defesa – nessa disputa é o suíço Pilatus, mas o Departamento de Defesa também colheu informações das americanas Hawker Beechcrafte Air Tractor. A Embraer tem uma subsidiária na cidade de Fort Lauderdale, na Florida, e está construindo uma fábrica para montar jatos executivos em Melboune, no mesmo Estado. Mallot considera que a montagem das aeronaves militares na Flórida deverá ajudar a Embraer a atender as exigências do governo americano.

A Autoridade Aeroportuária de Jacksonvile concedeu uma opção a Embraer para alugar um hangar com 3,7 mil metros quadrados no aeroporto internacional da cidade para a montagem dos aviões Super Tucanos, que seria exercida caso a empresa vença a disputa no Departamento de Defesa. A Comissão de Desenvolvimento Econômico de Jacksonville concedeu um incentivo fiscal de até US$ 150 milhões para a criação de 50 empregos com salários médios anuais de US$ 50 mil.

Na sua consulta às empresas, o Departamento de Defesa informou que planeja comprar inicialmente 100 aviões, mas o contrato final poderá subir a 200 aviões. A versão mais básica do Super Tucano custa US$ 10 milhões, mas o preço pode subir a US$ 15 milhões dependendo dos equipamentos instalados.

Uma das razões da Embraer para escolher Jacksonville para montar os aviões é a tradição da cidade no setor de aviação. “Temos uma mão-de-obra com as qualificações exigidas para a montagem de aviões”, disse Mallot. Jacksonville tem uma base aérea da Marinha americana e fica a cerca de 250 quilômetros ao norte da base de lançamentos de foguetes de Cabo Canaveral.

O contrato com o Departamento de Defesa é considerado estratégico pela Embraer para recuperar o nível de vendas, que foram fortemente afetadas pela crise financeira mundial, e para diversificar a atuação da companhia e torná-la menos suscetível às recessões econômicas.

No terceiro trimestre de 2010, a que se refere o mais recente balanço, a Embraer entregou 44 aviões, o que representa 13 unidades a menos que o esmo periodo do ano anterior. Mas o número de encomendas de novas aeronaves vem se recuperando.

Centro da crise atual, em 2007 a América do Norte comprou US$ 3,377 bilhões em produtos da Embraer, o que corresponde a 47% das vendas da empresa no mundo todo. Cerca de dois terços dessas receitas vieram da venda de aviões para companhias aéreas. A Embraer vem apostando na diversificação de produtos, como o desenvolvimento de novos jatos executivos e produtos para a área de defesa, e de novos mercados, como Oriente Médio e resto da Ásia.

No ano passado, o Brasil assinou com os Estados Unidos um acordo de cooperação militar, o primeiro em 30 anos, que deve ajudar a Embraer na disputa pelo contrato. Em visita a Washington, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que, graças ao acordo militar, o Departamento de Defesa poderá dispensar licitação caso decida comprar os aviões da Embraer.

FONTE: Valor Econômico – 10/01/2011

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