Rafale – A escolha óbvia para o Comando das Forças Estratégicas da Índia

86

Neeraj Kakar

O que é o Comando das Forças Estratégicas (“Strategic Forces Command” – SFC): Em janeiro de 2003, a Comissão de Segurança do Gabinete estruturou o Conselho Executivo e o Conselho Político do Comando Nuclear (“Nuclear Command Authority – NCA”), que são presididos pelo Assessor de Segurança Nacional e pelo Primeiro-Ministro, respectivamente. Estes têm a prerrogativa de autorizar o acionamento dos meios nucleares. As diretivas do NCA são operacionalizadas pelo Comando das Forças Estratégicas (“Strategic Forces Command” – SFC), que formula o plano de guerra nuclear, gerencia o armazenamento das cerca de 100 ogivas nucleares indianas e seus sistemas de lançamento.

A necessidade de um bombardeiro estratégico: Por muitas razões e circunstâncias que o país tem atravessado nos últimos sete anos; pelos muitos planos de guerra estratégica que foram colocados para discussão sobre a mesa no Sena Bhawan (Ministério da Defesa); pelos testes de mísseis que falharam, marcando-os como não-confiáveis para o lançamento de armas nucleares: o SFC finalmente decidiu adquirir a sua própria frota de bombardeiros estratégicos, confiáveis o suficiente para garantir o lançamento de bombas nucleares.

A tríade nuclear da Índia é pouco operacional. O K-15 ainda não está operacional, nem tem o alcance necessário para atingir Lahore (no Paquistão), enquanto navega em segurança no Mar da Arábia. O Prithvis e o Agnis não têm a confiabilidade que é necessária quando você está lançando algo como uma bomba nuclear através da fronteira. O Brahmos não tem alcance suficiente para atingir Pequim ou Karachi sem exigir a mobilização das ogivas para longe de seus abrigos, tornando-as vulneráveis à detecção, perdendo assim a surpresa e, provavelmente, enfrentando o risco de sua neutralização. A Indian Air Force – IAF, no entanto, tem o SU-30 MKI, o MiG-29 e o Mirage 2000, que podem lançar a bomba incorporada em Moskits (mísseis de cruzeiro) ou em lançamento por gravidade. Mas, em uma guerra, cada aeronave da IAF estará comprometida com uma missão, não deixando, portanto, para o SFC os recursos em mãos para ensaiar, planejar e se preparar para um segundo ataque. Assim, o SFC agora precisa de seus próprios aviões para assegurar que não haverá restrições no momento da guerra.

A Missão: Então, que aeronaves são necessárias para lançar armas nucleares? Bem, o B-29 super fortaleza poderia fazê-lo. Mas os tempos mudaram. Hoje, o bombardeiro tem que ser furtivo, carregado com os mais recentes ECCM “jammers” (interferidores eletrônicos) para ser capaz de atravessar a fronteira sem ativar os SAM (mísseis solo-ar), precisa ser uma plataforma robusta e suficientemente grande para transportar cargas de 1000 libras, juntamente com tanques de combustível suficientes para fazer os trajetos de ida e volta a partir da Índia central – Pune, por exemplo. E, ao mesmo tempo, tem que ser um caça de grande capacidade de combate, para ser capaz de fazer a sua viagem de regresso, fugindo dos F-16 que teriam decolado para a interceptação. Então, uma coisa é clara: ele precisa ser caça furtivo multitarefa, manobrável e com substancial capacidade de carga externa.

Apenas o Rafale: O SU-30 MKI é, principalmente, um caça de superioridade aérea, que foi concebido para a defesa ou para dar escolta. Embora ele tenha capacidade atuar profundamente dentro do Paquistão, é muito mais vulnerável à detecção, sendo aeronave maior e mais pesada. Com um alto RCS (vulnerabilidade à detecção) ele realmente não se enquadra na categoria “stealth” (caças furtivos). O Eurofighter, embora sendo extremamente furtivo e um grande caçador, não é uma grande plataforma para lançamento de armas ar-superfície. O F-16 e o FA-18 Super Hornet têm que ser mantidos fora dos hangares do SFC, eu tenho certeza, considerando que o Pentágono nunca nos vai permitir usá-los, no sentido prático, para o lançamento de armas nucleares. O MiG-29 é uma plataforma antiga, que já está sentindo falta de seu vigor e, provavelmente, de peças de reposição também. Eu não acho que alguém esteja interessado em comprar um MiG na atualidade. De fato, após a fusão, a Sukhoi não está sequer interessada em vendê-los. O Rafale é um cavaleiro em armadura brilhante. É uma plataforma comprovada de ataque ao solo, tem a melhor aviônica (eletrônica embarcada), ECM e ECCMs (medidas e contramedidas eletrônicas). Em breve, receberá AESA (radar de varredura eletrônica) de primeira linha. O cockpit é o sonho de um piloto. Já provou sua garra no Afeganistão, e adivinhem, tem uma versão naval também, para o caso de começarmos a babar…

Ferramentas e reutilização: Mas o que realmente acontece em favor do Rafale é que a Força Aérea Indiana está mais do que feliz com seu irmão mais velho – o Mirage 2000. De fato, o Rafale foi quase escolhido como o caça para o MMRCA (programa indiano para aquisição de 126 aeronaves), antes que os americanos se interessassem pelo negócio e que os franceses apresentassem seu preço muito alto como um fator de desgaste. O Mirage 2000 foi amplamente utilizado para lançar bombas de mil libras com precisão cirúrgica nas alturas de Kargil. A Índia já tem a capacidade de revitalizar as aeronaves da Dassault. O Rafale vai ser absorvido pela Força muito facilmente. E isso também vai nos ajudar a economizar uma fortuna no treinamento de pilotos, nas ferramentas e em muitos componentes reutilizáveis.

Geopolítica: A impressionante coincidência é que o número de aeronaves que foram colocadas no papel (40) como uma exigência pelo SFC corresponde exatamente ao que foi oferecido no ano passado pelos franceses, como um negócio de oportunidade. Sarkozy vai estar aqui em Dezembro, logo após Obama ter feito o seu lance para a Boeing no MMRCA, em troca de “algo” no Conselho de Segurança. No entanto, os franceses têm coragem, e eu tenho certeza que, nesse caso, iriam vetar o acesso da Índia ao CS da ONU. E é por isso que o Rafale será escolhido como o caçador do SFC (Comando de Forças Estratégicas).

FONTE: IDRW.ORG / COLABOROU: Just in Case

wpDiscuz