Negociações sobre o Rafale com Emirados Árabes Unidos suspensas
Por Emmanuel Jarry – 01/10/10
Para o Rafale “isso é maldito lugar nenhum”, nem os Emirados Árabes Unidos, nem o Brasil, disse nesta sexta-feira o Ministro francês da Defesa, Hervé Morin, interrogado no Senado.
Em 15 de junho, Morin havia assegurado que a venda de aviões de combate multirole da Dassault Aviation aos Emirados Árabes Unidos estava sendo finalizada. Mas em 26 de junho, o Le Figaro publicou um artigo sobre o uso de tecnologia israelense para proteger as fronteiras dos Emirados contra a ameaça iraniana.
Se esta informação fez pouco barulho na França, provocou protestos no mundo árabe, onde tudo relacionado a Israel é extremamente sensível.
“Oito dias depois, a imprensa do Oriente Médio descobriu e apontou para os Emirados Árabes Unidos”, disse um alto funcionário francês. “O Xeque Mohammed disse: “O Sr. Dassault é o proprietário do Le Figaro, ele me apunhalou pelas costas, as discussões (sobre o Rafale) estão acabadas“.
O Sheikh Mohamed Bin Zayed Nahyan bin Sultan Al é o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos e chefe da Forças Armadas dos EAU.
Procurado pela Reuters um porta-voz da Dassault Aviation apenas expressou um “sem comentários”.
A revista American Defense News também escreveu em 13 de setembro que os Emirados Árabes Unidos tinham solicitado à Boeing “informações técnicas” sobre o F-18 Super Hornet.
Este aparelho, embora de concepção mais antiga que o Rafale, em sua versão modernizada é um concorrente direto, notadamente por conta de seus motores mais potentes.
O governo francês e a industria francesa do setor confirmam o descontentamento dos Emirados Árabes Unidos com o Le Figaro, mas esperam que a suspensão das negociações com a Dassault seja apenas temporária.
“Mudança de humor” e pressões
“Este é um ajuste de temperamento bastante compreensível, resultando em uma desaceleração nas discussões, mas não há nenhuma ruptura”, afirmou também uma fonte do governo.
Uma fonte diplomática francesa, por sua vez, garante que as relações bilaterais entre a França e os Emirados Árabes Unidos continuam a se “portar muito bem”.
O “ajuste de temperamento” dos Emirados Árabes Unidos e seu súbito interesse no F-18 americano poderiam ser também uma forma de colocar pressão sobre Paris e a Dassault Aviation para obter satisfação em vários de seus pedidos.
“Isso é justo”, disse uma fonte próxima da indústria de aviação. “Os Emirados Árabes Unidos tem sempre sido clientes muito exigentes”.
Antes do artigo do Le Figaro, os Emirados Árabes Unidos pediram uma versão do Rafale com reator de nove toneladas de empuxo ao invés de 7,5, para melhorar seu poder de reação em um espaço aéreo restrito próximo ao Irã. Também exigiram um radar mais potente.
No entanto, isso requer custos adicionais significativos, que a França claramente não está preparada para tomar a seu encargo. “Nós não temos muito dinheiro para colocar lá“, afirmou uma fonte do governo francês.
É claro para todos, de qualquer maneira, que esta questão estará no centro das negociações com a Dassault, caso os Emirados Árabes Unidos decidam continuá-las.
A Dassault Aviation ainda não exportou o Rafale, que equipa as Forças Armadas francesas. As negociações estão em curso, nomeadamente com o Brasil, mas está sendo difícil obter sucesso. (Tim Hefer, editado por Patrick Vignal)
FONTE: Revista Obs.com / COLABOROU: gd.araujo / TRADUÇÃO: Vader