A diferença entre escolha política e escolha técnica

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Em 1967, assumiu o Ministério da Aeronáutica o Ministro Márcio de Souza e Mello. Logo depois, foi criada a CEPAI (Comissão Especial para o Projeto Aeronave de Interceptação). Essa comissão trataria dos estudos relativos à escolha de uma aeronave pura de interceptação, nova (sem ser usada) e supersônica.

A CEPAI estruturou seus trabalhos em projetos: Projeto USA, Projeto França, Projeto Inglaterra, Projeto Itália e Projeto Suécia, cada uma com uma equipe diferente de pilotos. A ideia era avaliar, respectivamente, as aeronaves F-5A/B, Mirage III, Lightning Mk.55, F-104 e Saab Draken.

Para tanto, consultas formais, a nível de Governo, foram iniciadas com vistas a enviar equipes de avaliação a esses países.

Surpreendentemente, o governo americano colocou-se contrário à avaliação de aeronaves supersônicas por parte do Brasil já que, em sua concepção, aeronaves dessa performance estariam vetadas aos países latino-americanos, por desequilibrar “o balanço do poder ao Sul do Rio Grande”. Isto posto, a avaliação do F-5A/B foi eliminada.

Durante a avaliação das demais aeronaves, o governo americano insiste que o Brasil envie uma equipe para voar o F-5A/B, embora permanecessem as restrições de exportação.

A contragosto do Ministro Márcio (pressão política?), a CEPAI montou uma nova equipe para a missão USA.

A análise posterior dos relatórios, foi feita pelo GABAer/EMAer e resultou na escolha do Mirage III, em detrimento de outras aeronaves.

Aquisição do Mirage III

Para apresentar a solução ao Presidente, a CEPAI elaborou um substancioso relatório que seria encaminhado ao Presidente Costa e Silva para a necessária aprovação, o que foi feito.

Há um fato curioso (presenciado pelo Chefe da CEPAI), no que tange à análise presidencial do relatório. O Ministro Márcio, em despacho pessoal, apresentou o Relatório da CEPAI indicando o Mirage III e seu arrazoado. O Presidente Costa e Silva ouviu atentamente o Ministro Márcio e, ao final dos esclarecimentos, teria declarado:

– “Ministro Márcio, estou com um problema político com o governo inglês e seus bancos no que se refere ao financiamento para as obras da Ponte Rio-Niterói. Muito me ajudaria se a solução da FAB fosse o Lightning”.

O Ministro Márcio retirou-se e convocou o Chefe da CEPAI e instruiu:

– “Onde estiver escrito Mirage nesse relatório, APAGA e põe Lightning”. O que, a contragosto, foi cumprido. E o relatório BRAINGLA (Brasil-Inglaterra) recebeu o aprovo por escrito do Presidente Costa e Silva, que dias depois adoeceu, vindo a falecer.

Passaram-se alguns meses. Quando já empossado o Presidente Médici, o Ministro Márcio retorna ao assunto fazendo o retrospecto histórico do processo. Após tudo ouvir, o Presidente Médici acrescentou:

– “Ministro Márcio, não temos mais o problema financeiro citado pelo meu antecessor. Se a escolha técnica da FAB foi o Mirage francês, que o seja”.

FONTE: Estória Informal da Aviação de Caça – Crônicas e Causos… – Associação Brasileira de Pilotos de Caça – 2003

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