Esquadrões Dauphiné e Belfort: as novas dissoluções do Armée de l’air

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Força Aérea Francesa continua seu processo de desativação de esquadrões, no contexto da racionalização da aviação de caça, reconhecimento e ataque, e da adoção de um novo vetor, o Rafale

No dia 29 de junho, foi dissolvido o Esquadrão de Caça 1/4 “Dauphiné”, equipado com Mirage 2000 N

No dia 17 de junho de 2010, foi realizado o último voo operacional de um Mirage 2000 N do Esquadrão de Caça 1/4 “Dauphiné”, especializado em ataque nuclear. Pouco mais de dez dias depois, em 28 de junho, era realizada a cerimônia religiosa e militar de dissolução do esquadrão, presidida pelo comandante das forças estratégicas, o general Paul Foilland.

Uma demonstração aérea de um Mirage 2000 N e de um Rafale, representando passado e futuro, colocaram um ponto final em quase um século de história do esquadrão, a não ser que seja reativado um dia, o que já aconteceu antes com outros esquadrões da Força Aérea Francesa – mas não parece ser esse o caso, dado o processo de racionalização pelo qual passa a força (veja mais a respeito no primeiro link da lista ao final da matéria).  A pintura especial de uma aeronave, o batismo de uma avenida com o nome de “EC 01.004 Dauphiné”, na Base Aérea de Taverny, uma galeria de retratos de pilotos e navegadores desde 1960 e a publicação de um livro também marcaram a dissolução da unidade.

O “Dauphiné” foi criado durante a Primeira Guerra Mundial, em 1916. Quando veio a Segunda Guerra Mundial, o esquadrão lutou na Campanha da França, mudando-se depois para a África do Sul e do Norte. A partir de 1943, passou a lutar ao lado das Forças Aliadas nas campanhas da Córsega, da Itália, da Alsácia e da Alemanha. Após a II GM, esteve também na Indochina, antes de se estabelecer, em 1961, em Luxeil.

Em julho de 1988, o esquadrão foi declarado como operacional no Mirage 2000 N (substituindo os Mirage IV P), passando para a subordinação do comando das Forças aéreas estratégicas em 1º de setembro de 1991. Logo acima e mais abaixo, pode ser vista a heráldica do esquadrão e de suas três esquadrilhas, a SPA 37 “Charognard”, SPA 81 “Lévrier” e SPA 92 “Lion de Belfort”.

A missão principal do esquadrão era o ataque nuclear, sendo o ataque convencional a sua missão secundária.

Pouco antes, em 24 de junho, foi a vez do Esquadrão de Reconhecimento 1/33 “Belfort”, equipado com Mirage F1 CR

Com uma cerimônia presidida pelo general Joël Martel, foi dissolvido esse esquadrão também quase centenário, o 1/33 “Belfort”, cuja trajetória mais recente está bastante ligada aos seus desdobramentos no Chade (veja links mais abaixo, com fotos e vídeos), assim como operações no Afeganistão.

Segundo o o tenente coronel Vincent Fournier, último comandante do esquadrão, as tradições do “Belfort” deverão continuar no esquadrão de UAV “Adour”, baseado em Cognac, especialmente em sua esquadrilha “La Hache”, que chegou a integrar o 1/33. Trata-se de uma transferência lógica de tradições, dado que os Veículos Aéreos Não Tripulados do “Adour” cumprem a missão de reconhecimento, que era a função primária dos Mirage F1 CR do “Belfort”.

Uma parte de suas aeronaves deverá ser transferida para o último esquadrão do Armée de l’air a operá-los, o 2/33 “Savoie”, com o qual nos últimos anos compartilhou a Base Aérea de Reims, assim como uma parcela de seus pilotos (os demais integrarão esquadrões de Mirage 2000 N e Rafale, entre outros). Com o 2/33, também ficará o acervo do célebre piloto Saint-Exupéry, que serviu no esquadrão. A outra parte dos Mirage F1 CR deverá ser sucateada, segundo o tenente coronel. Uma curiosidade é que Fournier, ao longo de sua carreira, também viveu outras dissoluções de esquadrões de caça bastante tradicionais da Força Aérea Francesa, o 1/30 “Alsace” e o 2/30 “Normandie-Niemen”.

As origens do 1/33 ” Belfort ” também remontam à Primeira Guerra Mundial, quando, em 2 de outubro de 1914, foi criada a Esquadrilha MF 33, equipada com aeronaves Farman 11 e que, em 1916, passaram a portar a insígnia “La Hache”.

Nos anos 30, já como 33ª Esquadrilha de Reconhecimento, a unidade era equipada com bimotores Potez, que em fevereiro de 1940, já durante a Segunda Guerra Mundial, foram substituídos por caças Bloch. Em 22 de junho daquele ano, transferiu-se para a África do Norte. Reequipada com aviões norte-americanos P-38 em março de 1943, voltou a combater sobre a França em 1944.

Após o conflito, já redenominada GR 1/33 ” Belfort “, passou a ser baseada em Cognac. Em 1952, recebeu jatos F-84G e, em 1956, participou da Campanha de Suez. A denominação definitiva de Esquadrão de Reconhecimento veio nos anos 60, que viram a unidade operar a partir de Luxeil e Strasbourg. Nessa última base, recebeu seus primeiros Mirage III R, em janeiro de 1967.

Quase vinte anos depois, em 1986, foi reequipada com os Mirage F1 CR, com os quais vinha operando desde então. Com essas aeronaves, participou das operações Epervier, no Chade, em 1989, assim como da Tempestade no Deserto, de 1991 (realizando missões de bombardeio e de reconhecimento).  No mesmo ano, também integrou a operação Aconit, na Turquia, de proteção às populações Curdas no Norte do Iraque e, em 1993, esteve na operação Crecerelle, a partir da base de Istrana, na Itália. Desde 2006, o esquadrão operou com regularidade sobre o Afeganistão (operação Serpenaire).

FONTE / FOTOS: Armée de l’air (Força Aérea Francesa)

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