A história da cooperação europeia no desenvolvimento de projetos de caças, de 1965 a 1985

O ECA está morto. Vida longa ao EAP


A implosão do programa ECA não paralisou os trabalhos da BAe. Baseado nos estudos do ECA a empresa britânica, utilizando recursos privados, custeou o desenvolvimento do projeto P.110 (ver foto acima). O foco não era mais o substituto do Jaguar (conforme razões explicadas no texto anterior), mas sim um caça ágil de superioridade área que pudesse atuar no ‘front’ central europeu a partir da década de 1990. Estes eram os novos requisitos da RAF após a reavaliação da sua atuação na Europa continental. No início da década de 1980, a RAF possuía dois esquadrões de Phantom II baseados na Alemanha. Era exatamente este avião que deveria ser substituído.

A nova abordagem da RAF ia ao encontro dos requisitos alemães do TKF90, que também buscava um substituto para os F-4F na arena ar-ar, com capacidade segundária ar-solo.

Em setembro de 1982, a BAe conseguiu reunir seus parceiros do programa Panavia (MBB e Aeritalia) e transformou o P.110 no Agile Combat Aircraft (ACA, não confundir com o “Advanced Combat Aircraft” mencionado anteriormente). Até este momento, não havia envolvimento governamental, somente acordos entre as companhias. A Panavia era um consórcio de sucesso e havia interesse dos três participantes em dar continuidade à parceria.

O ACA lembrava muito o projeto P.110 da BAe (ver imagem no início do texto). A grande modificação externa foi a troca das entradas de ar laterais por uma entrada abaixo do cockpit. (FOTO: BAe)

A pressão da BAe sobre o governo do seu país rendeu frutos e o Ministério da Defesa do Reino Unido contribuiu com 20 milhões de libras para o desenvolvimento do demonstrador (números maiores foram mencionados extra-oficialmente), renomeado “Experimental Aircraft Program” ou simplesmente EAP.

A França não ficou atrás e lançou o programa ACX no lugar do ACT92 visando a substituição do Jaguar, mas também interessada em outros nichos de mercado. O ACX seria uma aeronave tática bimotora com asa em delta e canards. Como o turbofan M53 do Mirage 2000 era um motor desenvolvido para altas e médias altitudes (excelente para um interceptador, mas não adequado para uma aeronave de ataque ao solo), um novo propulsor seria projetado visando um ótimo desempenho tanto na função de superioridade aérea como ataque ao solo.

O EAP em voo. Observar as semelhanças com o ACA (foto acima), porém com uma única deriva. Diversas partes da aeronave foram “emprestadas” do Tornado (FOTO: BAe)

Por diversas vezes o governo francês insistiu no desenvolvimento do ACX em cooperação com os governos alemães e britânicos mas, se fosse necessário, estaria preparado para seguir sozinho. A indústria aeroespacial francesa continuava forte em 1983, com uma produção mensal de dois Mirage III e cinco Mirage F.1, e o Mirage 2000 fazia a sua estreia no mercado internacional com a opção do Egito pelo produto. Também havia o Super Mirage 4000, um programa privado da Dassault para um caça da mesma categoria do F-15.

Nasciam assim dois grandes rivais, o EAP e o ACX. O primeiro embate ocorreu ainda em 1983, durante o Salão de Paris. Nem mesmo a presença do ônibus espacial Columbia chamou tanto a atenção quanto os modelos em escala real do projeto britânico e do projeto francês.

Maquete do projeto N/D-102, uma parceria entre a Northrop e a Dornier. O N/D-102, embora pouco conhecido, é chamado de “o elo perdido” entre o YF-17 e o YF-23.

Embora a MBB participasse do demonstrador EAP, o governo alemão não havia tomado nenhuma decisão, mesmo porque existiam outras possibilidades como o programa do N/D-102, desenvolvido pela Dornier em parceria com a Northrop. No entanto, era bastante provável que a Alemanha firmasse uma parceria com um dos dois países europeus caso não houvesse união entre todos.

continua na parte 9

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