A história da cooperação europeia no desenvolvimento de projetos de caças, de 1965 a 1985

Superioridade Aérea

Se as necessidades da França e da Grã Bretanha na questão da defesa aérea estavam atendidas, o mesmo não podia ser dito em relação à Alemanha, Itália e Espanha. Esses países eram operadores do F-104G Starfighter e do F-4 Phantom II (Alemanha e Espanha somente). Uma das soluções mais óbvias seria a compra de material norte-americano, como o F-16 ou o F-18L, nos mesmos moldes dos ‘quatro da OTAN’ (Holanda, Bélgica, Noruega e Dinamarca). Na verdade, este foi o caminho percorrido pelo Canadá, que adquiriu o F/A-18 para substituir três modelos diferentes de aeronaves (CF-101, CF-5 e CF-104).

Dos países citados acima, a Alemanha era a nação que mais investia em um programa de caça de defesa aérea próprio. Os requisitos da Luftwaffe eram conhecidos como TKF 90 (Taktische Kampflugzeuge 1990) e a aeronave deveria ser mais capaz que o F-16 na arena ar-ar, além de possuir capacidade ar-solo secundária. As três grandes companhias aeroespaciais da Alemanha (Dornier, MBB e VFW) receberam fundos do governo visando o desenvolvimento de programas distintos.

Duas propostas para o NKF alemão. À esquerda a maquete da MBB e, à direita, a ilustração do projeto da VFW (FONTE: FI/VFW)

A indústria aeroespacial alemã no final da década de 1970 encontrava-se bastante desenvolvida e heterogênea, participando de diversos programas europeus como o Tornado, o Alpha Jet, o PAH-2 , o BK-117 e o Airbus. Mesmo assim, sua massa de trabalhadores, algo próximo de 55.000 homens, ainda era metade do tamanho da francesa e um quarto da britânica.

Se a capacidade técnica da Alemanha já não era mais problema para o desenvolvimento de um caça puramente nacional, o custo do mesmo tornou-se um empecilho. No verão europeu de 1980, o então ministro da defesa da Alemanha, Hans Apel, informou que os custos de certos programas militares, incluindo o do caça tático Tornado e do carro de combate Leopard, haviam aumentado muito, reduzindo os recursos para novos investimentos.

Novamente surgiram as alternativas de sempre. Participar de um programa multinacional ou adquirir um caça pronto no exterior. De acordo com o cronograma alemão, a decisão não poderia esperar muito. Se a opção fosse pelo desenvolvimento conjunto entre Alemanha, França e Grã Bretanha, a decisão deveria ser tomada ainda em 1980. Uma eventual parceria com os norte-americanos poderia ser decidida em 1981 e a compra de um “caça de prateleira” poderia aguardar até 1984. A Alemanha nunca escondeu sua apreciação pelo programa P600 da Northrop (ao lado proposta da Dornier para o programa NKF-90. A influência da Northorp fica clara nesta maquete) e, caso tudo desse errado, o F-18 Hornet seria a compra de prateleira do momento.

Conciliar os interesses parecia algo difícil, pois a visão estratégica de cada país era diferente, mesmo tendo um inimigo em comum. Na visão alemã, a ameaça principal vinha do grande número de aeronaves de ataque e caças-bombardeiros existentes nos países do Pacto de Varsóvia. Estes deveriam ser abatidos em combates ar-ar antes que o TKF (ou qualquer outro caça que viesse a ser adotado) pudesse ser empregado na função ar-solo. Devido à proximidade com a frente de combate, estes aviões deveriam estar protegidos no interior de hangares fortificados e operar a partir de pistas curtas.

Os franceses, pela maior distância do ‘front’ central, não tinham a necessidade de pistas curtas. Já Reino Unido, pela sua posição geográfica mais afastada, tinha a necessidade de interceptadores de longo alcance (o Tornado ADV) baseados “em casa” e caças de ataque baseados na Alemanha para apoiar suas tropas terrestres.

A diferença entre os requerimentos não era o único problema. Não só “o que” deveria ser produzido, mas também “quando” este produto deveria entrar em serviço eram motivos de discussão. Os britânicos eram os primeiros da fila. De acordo com a RAF, o substituto do Harrier/Jaguar deveria entrar em cena por volta de 1987. Para os alemães, a aeronave que tomaria o lugar do F-4F entraria em atividade depois de 1990. Os franceses esperavam substituir o Jaguar em 1992.

continua na parte 7

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