F-X2: segundo jornal mineiro, relatório não está pronto e nem há prazo para entregá-lo

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Paulo Paiva

Atualmente, poucas nações têm a capacidade de projetar, desenvolver e fabricar um caça supersônico. A Suécia é uma delas. O Brasil poderá ser a outra.

Agora existe uma oportunidade única para que o Brasil se torne um parceiro no programa de desenvolvimento do Gripen NG. Isso assegurará ao país acesso a todos os níveis de tecnologias-chave, proporcionando autonomia nacional para a operação e o desenvolvimento de futuros projetos de caças supersônicos.

“Uma decisão a favor do Gripen NG é uma decisão que envolve parceria e independência para futuras gerações do poder aéreo e para o desenvolvimento industrial aeroespacial, gerando milhares de empregos sustentáveis para o Brasil”.

O anúncio acima vem sendo publicado na mídia pela empresa sueca Saab, fabricante do caça supersônico Gripen NG, que disputa com o Rafale-C, da francesa Dassaul (sic), e o F-18 E/F, da Boeing, uma concorrência de US$ 10 bilhões para aquisição de 36 aviões pela Força aérea Brasileira (FAB). O fato de a Saab estar ocupando a mídia e abordando a ampla transferência de tecnologia dá uma ideia do angu de caroço que o assunto virou.

A compra dos caças, essenciais para a modernização da FAB, vem sendo discutida desde o final do último mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. O abacaxi ficou com Lula que, em setembro passado, manifestou preferência pelo francês Rafale, durante visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao Brasil.

Os Rafale são os mais caros, mas estão envolvidos num pacote maior, incluindo submarinos e helicópteros franceses. A Boeing tem limitações para transferir tecnologia, que é o que verdadeiramente interessa ao país. E o Gripen, por enquanto, é apenas um projeto em estado avançado. Nunca foi testado em ação de combate. Mas é o que oferece maior transferência de tecnologia – e a FAB gostou.

Depois do afago ao Rafale e a divulgação de que a FAB prefere o Gripen, Lula adotou uma postura de cautela e pediu um relatório ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. O Ministério da Defesa informa que o relatório não está pronto e nem há prazo para Jobim entregá-lo. Ou seja, possivelmente a decisão ficará para o próximo presidente da República.

O mundo mudou

O problema é que, neste intervalo, o mundo mudou – e o Brasil mudou com ele. A posição brasileira de apoio ao Irã na questão nuclear isolou o país dentro da Organização das Nações Unidas (ONU). E este fator poderá ser decisivo na escolha dos caças.

Os EUA lideraram as nações desenvolvidas nas sanções contra o Irã, assumindo posição oposta a do Brasil. Pode ser que isso afaste a Boeing da disputa, por dois motivos: retaliação do Brasil aos americanos; e desconfiança dos próprios americanos em relação ao Brasil. O Congresso dos EUA pode barrar definitivamente a transferência de tecnologia dos caças ao país.

Conselho de Segurança

A França alinhou-se aos EUA na questão iraniana. O afago do Brasil ao Rafale tinha, como contrapartida, a defesa, por parte de Sarkozy, à entrada definitiva do país no Conselho de Segurança da ONU. Ficará quase impossivel para Sarkozy fazer isso agora. Então, parece que o único que passou incólume pelas mudanças foi o sueco Gripen, o mais barato e favorito dos militares brasileiros.

Decisão política

A decisão da compra dos caças é eminentemente política, e não técnica. O fracasso do Brasil na questão iraniana, a desconfiança das grandes potências em relação ao país e o isolamento nacional na ONU certamente influenciarão na escolha, seja neste ou no outro governo. Pelo bem do país, essa novela tem que terminar logo. A Saab parece saber disto.

FONTE: O Estado de Minas, via Portal do Raul Jungman

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