Voo AF 447, um ano depois da tragédia
Na terça-feira, haverá uma solenidade no parque Floral, no sudeste de Paris, e um cerimônia no cemitério Père Lachaise, onde um memorial com uma urna para mensagens será instalado. Reunidos neste evento fúnebre, representantes das associações francesa, brasileira, alemã e italiana dos familiares das vítimas acusaram os responsáveis pelas investigações de “minimizar o impacto das falhas dos sensores de velocidade” do Airbus devido a “interesses políticos e financeiros”.
Parentes não creem na resolução do caso
Três relatórios sobre o acidente foram divulgados pelas autoridades francesas até o momento. Dois foram realizados pelo Escritório de Análises e Investigações (BEA, na sigla em francês), ligado ao Ministério dos Transportes da França, e o terceiro por especialistas jurídicos. “A recusa deles em considerar a pane dos sensores de velocidade como elemento essencial da causa do acidente é suspeita. E a incapacidade ou falta de vontade de explicar as outras panes registradas gera desconfiança”, afirma Jean-Baptiste Audousset, presidente da Associação francesa dos Familiares das Vítimas, que reúne 70 famílias.
“Não aceitaremos que a recusa em aceitar provas significativas sirva de pretexto para enterrar o caso do AF 447”, diz Audousset. Segundo ele, os relatórios divulgados são “tendenciosos e incompletos”. Audousset afirma ainda que a “negação da realidade não deve servir de álibi aos protagonistas que falharam em seus deveres em relação à segurança aérea”.
Para o BEA, as falhas nos sensores de velocidade (os chamados tubos Pitot) do Airbus da Air France, são “um dos elementos, mas não a causa do acidente”. Segundo o BEA a causa da queda permanece desconhecida, já que as caixas-pretas do avião não foram encontradas.
Em setembro passado, a Agência Europeia de Segurança da Aviação determinou a substituição de ao menos dois dos três sensores de velocidade dos aviões Airbus, fabricados pela empresa francesa Thales, por modelos da americana Goodrich. “Temos receio de que o caso seja abafado e que as responsabilidades pelo acidente não sejam apontadas”, disse Sluys, representante da associação brasileira de famílias das vítimas.
Interesses
“Há muitos interesses financeiros em jogo. A verdade pode não ser boa a ser revelada. Por que a Air France não trocou os sensores de velocidade antes?”, questiona o advogado Alain Jakubowicz, da associação francesa.O governo francês possui participação no capital da Air France e do consórcio europeu Airbus.
A associação alemã de familiares das vítimas, a HIOP, que reúne 30 famílias, questiona o fato de o governo francês não ter aplicado uma diretiva europeia que determina a criação de um registro central para ocorrências graves na aviação civil, como as inúmeras falhas já ocorridas anteriormente ao acidente do AF 447 com os sensores de velocidade Pitot, reveladas por pilotos da própria Air France.
A HIOP também defende a participação de especialistas internacionais nas investigações, como solicitou, em coletiva de imprensa, Bernd Gans, representante entidade. A reclamação se refere à investigação penal conduzida pelo BEA. “Vamos pedir expressamente à juíza de instrução que designe especialistas internacionais para tranquilizar as vítimas”, disse também o francês Audousset.
Os representantes das famílias das vítimas também questionam a independência dos investigadores do BEA, “especialistas que trabalharam para a Air France ou para a Direção Geral da Aviação Civil da França”.
Os familiares pedirão ao ministro francês dos Transportes, Dominique Bussereau, a realização de uma quarta fase de buscas das caixas pretas do avião. Na última terça-feira, o BEA anunciou o fracasso da terceira fase de buscas das caixas pretas e da fuselagem do avião, iniciada em abril e prorrogada em maio.
No Airbus A330 que partiu do Rio de Janeiro com destino a Paris, no dia 31 de maio do ano passado, estavam 58 brasileiros, 64 franceses, 28 alemães, 9 italianos e 69 passageiros de outras nacionalidades. Apenas 50 corpos foram localizados, sendo 20 deles de brasileiros.
Segundo Maarten van Sluys, representante da associação brasileira de famílias das vítimas, as primeiras sentenças dos 34 processos de indenização que tramitam na Justiça americana deverão começar a ser anunciadas a partir de julho.
FONTE: UOL
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