País retoma desenvolvimento de nova família de foguetes
O documento, que inclui a análise da configuração do novo veículo, simulação de desempenho e proposta de propulsor, foi elaborado pelo Centro Estatal de Foguetes Acadêmico V.P. Makeyev, da Rússia. O Cruzeiro do Sul prevê investimentos de US$ 750 milhões (valores de 2004) para a construção de 5 foguetes em 17 anos, com o objetivo de atender às demandas brasileiras na área de transporte espacial.
“Em dezembro do ano passado, o governo brasileiro enviou para a Rússia o certificado de usuário final dos relatórios e agora espera a conclusão da licença de exportação do documento que, pelo conteúdo, é classificado como item sensível”, explicou o coordenador do Programa Cruzeiro do Sul no IAE, Paulo Moraes Júnior. A elaboração do anteprojeto do foguete VLS Alfa, segundo Moraes, também precisou ser ratificada por um acordo de salvaguarda tecnológica, assinado, em 2009, pelos governos do Brasil e da Rússia.
A Rússia já é parceira de longa data do programa brasileiro de lançadores. Além do fornecimento de componentes para os quatro protótipos do VLS (Veículo Lançador de Satélites), os russos foram contratados para fazer uma revisão técnica do quarto protótipo do VLS-1, que tem lançamento previsto para 2012. O trabalho também foi desenvolvido pela russa Makeyev.
A revisão técnica do projeto do foguete VLS-1 , segundo o pesquisador, incluiu modificações nas redes elétricas, rede pirotécnica (dispositivos utilizados para ignição de motores e separação de estágios), proteções térmicas, entre outras alterações, feitas com o objetivo de se aumentar a confiabilidade e a segurança do veículo.
O VLS-1, segundo o diretor do IAE, coronel Francisco Carlos Melo Pantoja, conta com um orçamento de R$ 30 milhões a R$ 35 milhões em 2010. A torre de lançamento do foguete, que está sendo construída em Alcântara, pelo consórcio Jaraguá-Lavitta, deve ficar pronta no fim deste ano. O investimento previsto no projeto é de R$ 43 milhões.
O programa brasileiro de lançadores enfrenta embargos com relação aos sistemas que permitem o desenvolvimento de artefatos militares (tecnologias sensíveis). A compra do computador de bordo do VLS-1, por exemplo, tem enfrentado dificuldades, mas está em fase de finalização do contrato. A fornecedora do sistema é a GE Intelligent Platformes. Os computadores de bordo, que equiparam os outros protótipos do VLS, foram comprados da Rússia.
Por esse motivo, alguns itens do foguete estão sendo nacionalizados para que o Brasil tenha mais autonomia no desenvolvimento do seu programa de lançadores. Um exemplo é o sistema de navegação inercial, utilizado na orientação da trajetória do foguete no espaço e na estabilização de satélites em órbita. O projeto, batizado de SIA, referente a Sistemas de Navegação Inercial para Aplicação Aeroespacial, tem um custo estimado de R$ 40 milhões e está sendo financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“O objetivo do programa é nacionalizar outros itens dos veículos lançadores, mas vários componentes continuam sendo fornecidos por empresas internacionais pois, em alguns casos, o custo e o tempo gastos no desenvolvimento da tecnologia não compensam”, comenta o gerente do VLS-1. Além do sistema de navegação, o Brasil hoje tem o domínio completo do sistema de propulsão do foguete e também da parte de materiais usados em sua estrutura.
O governo brasileiro decidiu investir no domínio da tecnologia de produção de propelente para ter mais autonomia no desenvolvimento do seu programa espacial, tendo em vista as dificuldades enfrentadas no mercado externo para a compra de matérias-primas usadas na composição dos propelentes para foguetes. Para os novos veículos do Programa Cruzeiro do Sul, que serão equipados com motores de maior porte, existe a necessidade de aperfeiçoar a tecnologia de propulsão. O segundo veículo da nova família, o VLS Beta, por exemplo, terá motor com capacidade para 40 toneladas de propelente sólido.
Os motores que equipam o foguete atual, o VLS-1, carregam até sete toneladas de propelente cada um. O foguete Beta também será feito em material composto e a empresa brasileira Cenic tem larga experiência nessa área, com a fabricação dos motores do quarto estágio do VLS-1 e do acelerador do foguete de sondagem VSB-30.
O primeiro veículo do Programa Cruzeiro do Sul, o Alfa, também irá introduzir o uso da tecnologia de propulsão líquida, que o Brasil está se preparando para dominar. O IAE montou um laboratório de Propulsão líquida, que é uma referência na América do Sul e o DCTA tem formado de 15 a 20 especialistas nessa tecnologia por ano, em parceria com a instituição russa Moscow Aviation Institute.
Acidente afetou o programa em 2003
O Veículo Lançador de Satélite (VLS-1) começou a ser desenvolvido em 1984 e já realizou dois testes em voo, mas sem sucesso, em 1997 e 1999. Em agosto de 2003, uma explosão com o terceiro protótipo do foguete, na plataforma de lançamento localizada em alcântara, no Maranhão, provocou a morte de 21 engenheiros e técnicos que trabalhavam no projeto.
Ao longo do desenvolvimento, o projeto do VLS-1 sofreu diversos atrasos, por conta de sucessivas restrições orçamentárias, perda de pessoal qualificado e embargo internacional. Desde o começo, o programa enfrentou as pressões dos países que dominam a tecnologia espacial e, por este motivo, o Brasil decidiu investir no desenvolvimento de tecnologias restritas, como a de propulsão e combustível sólido, plataforma inercial e estrutura em aço especial. O receio desses países era que o Brasil utilizasse o foguete para desenvolver mísseis de longo alcance.
O VLS-1 é uma evolução natural do programa de desenvolvimento de foguetes de sondagem, iniciado no país na década de 60. Com quatro estágios de voo, o VLS-1 é um lançador convencional, que usa combustível sólido e foi projetado para lançar satélites de 100 a 350 quilos, em altitudes de 200 a 1000 km. O veículo tem 19 metros de comprimento e 50 toneladas de peso na decolagem. O foguete VLS-1, apesar de ainda não ter sido qualificado em voo, ajudou no desenvolvimento de tecnologia de ponta no país. Durante a sua construção, o programa envolveu mais de cem empresas, que se capacitaram para fornecer equipamentos e componentes com qualificação espacial. Hoje, segundo o IAE, 14 empresas participam da construção do quarto protótipo do VLS-1.
Primeiro satélite universitário será lançado em 2012
A Agência Espacial Brasileira (AEB) está acelerando o desenvolvimento do projeto Itasat, o primeiro satélite universitário brasileiro, desenvolvido por pesquisadores e alunos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e de várias universidades brasileiras. Com orçamento anual de R$ 1,7 milhão, o Itasar é um microssatélite de coleta de dados ambientais e meteorológicos, que deverá ser lançado por um foguete nacional, por volta de 2012.
O Itasat está inserido no Plano Plurianual de Desenvolvimento e Lançamento de Satélites Tecnológicos de Pequeno Porte (PPA), destinado a promover a capacitação brasileira para atender a demanda pelas futuras gerações de micro e nanossatélites. A coordenação geral do projeto é feita pela AEB, tendo o ITA como responsável pela execução do projeto e o Inpe como provedor de consultoria técnica, de infraestrutura laboratorial e gestão financeira.
Segundo o diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, Thyrso Villela, o Itasat tem como missão principal a formação de especialistas na área de engenharia aeroespacial, com o desenvolvimento de novas tecnologias para o setor. “O primeiro satélite vai levar a bordo um transponder digital, que vai receber e transmitir informações, coletadas da rede de plataformas brasileira e utilizadas hoje na previsão de tempo”, diz Villela.
A rede brasileira de Plataforma de Coleta de Dados (PCDs) é formada por mais de 800 estações, espalhadas por todo o território. Elas coletam, armazenam e transmitem, automaticamente, medidas de variáveis meteorológicas e ambientais, realizadas a cada hora e armazenadas na memória da PCD. A transmissão dos dados é feita via satélite, a cada três horas.
O Itasat conta com a participação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Brasília (UNB), e da Technical University of Berlin. Em 2009 o Itasat envolveu 32 alunos de graduação, 23 de mestrado e cinco de doutorado.
Atualmente, 120 microssatélites universitários de cunho tecnológico são lançados por ano no mundo e apenas 15 países trabalham com esse tipo de projeto. “O Itasat é um projeto que estimula a participação das universidades no esforço nacional de desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro”, ressalta Villela.
FONTE: Valor Econômico (reportagem de Virgínia Silveira), via Notimp
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