F-X2 e ‘F-X3’: uma viagem ao futuro dos caças tripulados da FAB

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As imagens desta introdução representam, obviamente, uma brincadeira. Mas foram escolhidas para abrandar os espíritos durante a leitura, para que pensemos num futuro não tão fictício, por um lado, nem tão preso de cara  a imagens que possam remeter a preferências de cada leitor por um Super Hornet,  ou Rafale,  Gripen, PAK-FA e outros eventuais, dado que qualquer semelhança entre os citados e os “caças” acima e abaixo seria mera coincidência. Pelo mesmo motivo, a parte seguinte desse artigo é ilustrada por aeronaves da frota atual.

Esqueçamos os concorrentes do F-X2 por alguns minutos. Pensemos primeiro na FAB, na necessidade dela substituir sua frota, nos anos de realizações importantes que precisam existir pela frente para que essa substituição traga bons resultados, fugindo ao padrão de décadas anteriores. E, depois, que cada um alinhe sua preferência a essa necessidade – ou alinhe a necessidade à sua preferência, como queiram.

Este é um mero exercício de “futurologia”, baseado na visão deste autor sobre a concorrência F-X2, sobre as necessidades da aviação de combate (ou caça, se preferirem) da FAB, levando em conta os vetores a jato atuais, prazos para suas retiradas do serviço e intenções já divulgadas pela Força Aérea. Uma delas, é a de contar com uma frota de aproximadamente 120 aeronaves a jato em seus esquadrões de caça. Outra, é a de desenvolver uma 5ª geração a partir das tecnologias recebidas / desenvolvidas no projeto F-X2, o que, em grande parte, sinaliza uma parceria com a empresa / consórcio / país vencedor do programa. Essa aeronave de 5ª geração aparece aqui referida, genericamente, como “F-X3”. É claro, isso pode mudar com o tempo, mas o que é revelado pela Força / Ministério da Defesa sinaliza esse caminho.

O exercício também já considera a substituição dos jatos AT-26 Xavante remanescentes por F-5EM, sendo que esses últimos acumulariam a função de transição operacional (LIFT), até a aquisição de um jato mais adequado a esse fim. Assim, assume-se que será substituída, gradualmente, uma frota atual composta por um número um pouco menor do que a meta divulgada de 120 aeronaves, entre modelos F-2000 (12 unidades), F-5M (aproximadamente 50 unidades, parte ainda em modernização, incluindo modelos usados recebidos para complementar a frota, como é o caso dos adquiridos à Jordânia) e A-1 / A-1M (aproximadamente 50 unidades – observando-se que, como a modernização desse vetor ainda está em seu início, e estando ainda distantes os números de seu resultado final, a nomenclatura A1 / A1M está sendo utilizada ao invés de simplesmente A-1M)

Entre os leitores deste blog, há diversos defensores da ampliação do número de esquadrões de primeira linha da FAB, para que as 120 aeronaves planejadas pela Força (há que se levar em conta, todavia, que parte deste número deve compor uma reserva técnica para atrito operacional / manutenção nível parque) sejam espalhadas pelo maior número possível de bases  no território nacional, com aproximadamente 12 aeronaves por esquadrão. Há também os que defendem (muitas vezes com argumentos justos, outras vezes com descolamento da realidade) que esse número deva ser aumentado já. Mas fiquemos por hora com o que a FAB divulgou como sua meta: 120 aeronaves a jato.

Este autor defende o contrário: que o número de esquadrões de primeira linha seja reduzido (para algo como 6 esquadrões) para facilitar a logística e reduzir custos, mas que o número de aeronaves por esquadrão seja maior (entre 18 e 20 aeronaves, incluindo a reserva técnica), porém com maior capacidade de manterem frações desdobradas em outras bases espalhadas pelo território, em rodízio. O que não impediria que, após esse “enxugamento”, o número voltasse a crescer, mas partindo de um contexto mais racionalizado, conforme o crescimento da importância do país no cenário mundial e a necessidade de aumentar-se o poder de dissuasão e de operação em coalizões etc.

Assim, para não ferir preferências, não tratarei de esquadrões nem de sua quantidade nas projeções abaixo: apenas do número total de aeronaves, de forma aproximada, levando-se em conta a pretensão da Força de substituir gradualmente os modelos atuais por 120 aeronaves novas. Também para não ferir preferências e torcidas, não está sendo conjecturado qual dos três concorrentes do F-X2 será o vencedor, mas somente a necessidade da FAB de substituir seus atuais vetores.  Embarque então nessa “viagem para o futuro”, levando em consideração algumas datas possíveis e a manutenção de um número médio de aproximadamente 120 jatos, entre modelos novos e antigos, ao longo de todo o processo.

Exercício de futurologia:

  • 2010 – é anunciado oficialmente o vencedor do programa F-X2, iniciando-se as tratativas e assinaturas de contrato, para um primeiro lote de 36 aeronaves, divididas em sub-lotes menores.
  • 2010 / 2011 – com a assinatura de todos os contratos referentes ao F-X2, a adaptação do projeto às necessidades da FAB e a cooperação industrial são iniciadas.
  • 2012 – paralelamente, iniciam-se / aprofundam-se os estudos dos requisitos técnico-operacionais para uma aeronave de 5ª geração.

  • 2014/2015 – baixa dos Mirage 2000 (F-2000) e recebimento, em seu lugar, do primeiro sub-lote de F-X2. A produção e montagem dos sub-lotes seguintes deste primeiro lote de 36 aeronaves ganha impulso. Contrata-se um segundo lote de 36 aviões. Com a experiência advinda da operação inicial do F-X2, iniciam-se os estudos para a aquisição de um lote de jatos de treinamento / conversão para a primeira linha (ou Lead-In- Fighter-Trainer – LIFT), para substituir os F-5M empregados na função. Tem início o projeto / adaptação de projeto do caça de 5ª geração, com a participação de parceiro(s).
  • 2016/2018 – entrega dos sub-lotes remanescentes do primeiro lote de 36 aeronaves, parte das quais substitui os F-5M que acumularam mais horas de voo. É fechada a aquisição de um lote de 24 jatos para LIFT, com capacidade de combate / ataque leve. Avança o projeto da aeronave de 5ª geração.

  • 2019/2021 – entrega do segundo lote encomendado de 36 aeronaves, substituindo mais aeronaves F-5M e, conforme a necessidade de baixa de aeronaves A-1 / A-1M com maior número de horas de voo, substituindo também parte dessa frota. Recebem-se os 24 jatos para LIFT / ataque leve, aposentando também os F-5M empregados nessa função. Desta forma, todos os F-5M dariam baixa e a frota da FAB passaria a contar, em 2021 (daqui a 11 anos) com 72 jatos F-X2, 24 treinadores a jato na função LIFT, além dos remanescentes da frota de A-1 / A-1M.
  • 2025 – (daqui a 15 anos) voa o protótipo do F-X3, aeronave de 5ª geração, resultado de um projeto / adaptação de projeto com parceiro internacional.

  • 2027 – um lote de pré-produção de aeronaves F-X3 é produzido, sendo entregue ao primeiro esquadrão operador de F-X2 para avaliação. Os F-X2 disponibilizados por esse esquadrão são realocados, gradualmente, ao(s) último(s) esquadrão(ões) operadore(s) de A-1/A-1M.
  • 2028/2030 – um total de 36 F-X3 é entregue à FAB e o A1-/A-1M é aposentado, de maneira que a Força passa a contar, em 2030 (daqui a 20 anos), com um total aproximado de 108 caças de combate de primeira linha (há que se levar em conta, porém, que haverá uma provável redução, devido ao atrito operacional, na frota de 72 F-X2, o que poderia ser compensado com a produção de um pequeno lote adicional antes do fechamento de sua linha ou, simplesmente, de mais aeronaves F-X3), além de 24 jatos de conversão (LIFT) e ataque leve.
  • Além de 2030: novos lotes de F-X3 seriam produzidos, ampliando a frota e o número de esquadrões de primeira linha da FAB. Uma modernização mais profunda, de meia-vida, começaria a ser aplicada à frota de F-X2, cujos primeiros exemplares entregues estariam atingindo 15 anos de operação.

Agora é a sua vez de viajar ao futuro

Gostou? Sim? Não? Pessimista demais? Otimista demais? Singelo demais e grandioso de menos ou vice-versa? Comente, sugira um novo cronograma, faça sua projeção!

Uma premissa não citada na introdução à cronologia sugerida acima é que, face aos projetos de 5ª geração, qualquer aeronave do F-X2 está fadada a ser, no futuro, o “low” de um “hi-low” mix planejado para, gradualmente, elevar o padrão da força. O lado “low” da equação, hoje e na década que se inicia em 2011, será composto pelas aeronaves atuais, com o vencedor do F-X2 formando o “hi” à medida em que entra em serviço – e os leitores fãs de qualquer postulante a vencedor do F-X2 podem vislumbrar seu caça preferido nessa posição.

Mas é inevitável que, com o contexto tecnológico e operacional mudando conforme a 5ª geração amplia sua presença nas frotas mundiais e até mesmo uma 6ª vai sendo planejada (seja de aeronaves tripuladas, não tripuladas ou um “mix” entre as duas), qualquer vencedor do F-X2 vai se tornar nas próximas décadas o lado “low” numa composição de frota em que se planeje a renovação gradual dos vetores, numa Força Aérea que não pode se furtar a acompanhar o desenvolvimento tecnológico do resto do mundo. (mesmo levando-se em consideração que o vencedor do F-X2 passe por modernizações importantes ao longo da vida útil). Renovações de frota têm sido assim por décadas. Muito provavelmente, continuarão sendo pelas próximas, ao redor do mundo e, se possível, no Brasil.

Por fim, os fãs do PAK-FA podem simular também a presença do mesmo numa variação do planejamento acima, mesmo levando-se em consideração as premissas acima a respeito do desenvolvimento da 5ª geração a partir do F-X2. Afinal, o futuro está sempre em aberto e, como na guerra, todo planejamento passa a ser história a partir do primeiro disparo. E o primeiro voo do PAK-FA foi, certamente, um disparo de grande impacto.

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