A notícia que ‘abateu’ o programa F-X

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(… e o Su-35 quase foi para a FAB)

Notícia veículada pelo jornal Folha de São Paulo em 28/04/2004

Título original: Russos devem vencer licitação F-X da FAB

A concorrência para a venda de caças à FAB (Força Aérea Brasileira) chegou ao seu ponto final com a Embraer, franca favorita no princípio da disputa, perdendo pontos preciosos. O próximo avião da FAB será mais provavelmente o russo Sukhoi Su-35. O sueco Gripen também tem boas chances, embora ainda não esteja 100% descartado o francês Mirage-2000BR, oferecido pela Dassault e pela Embraer.

Chegou ao Planalto, na quinta passada, o relatório da comissão que estudou o caso da venda dos caças, um negócio de US$ 700 milhões que prevê o fornecimento de 12 aparelhos para substituir os atuais Mirage IIIEBR, que estão caducando no fim deste ano.

A comissão, formada por 13 membros de ministérios e do Legislativo, analisou um dos itens do relatório confeccionado pela FAB sobre os aviões concorrentes: as compensações diretas e indiretas oferecidas pelos consórcios, o chamado offset.

Foi aí que a Dassault/Embraer perdeu fôlego por oferecer as compensações quase integralmente do próprio consórcio, abrindo pouca margem para a integração de outras tecnologias ou para abertura de mercado.

As propostas russa e sueca são mais tentadoras. Por exemplo: a Rosoboronexport, agência de promoção de materiais de defesa que se associou à brasileira Avibrás para oferecer o Sukhoi, se compromete com a compra de até US$ 3 bilhões em produtos brasileiros -além de transferir tecnologia sensível em várias áreas.

O relatório não é terminativo, apenas indicativo, assim como o da FAB -que analisou, além dos offsets, a capacidade operacional do aparelho, a logística, o suporte pós-venda e aspectos estratégicos.

O que torna o Sukhoi favorito, segundo a Folha apurou, é uma conjunção de fatores.

O Ministério da Defesa é favorável aos russos, em especial porque a transferência tecnológica em outras áreas inclui a espacial -o governo tornou prioridade a retomada da construção de lançadores de satélite após a tragédia de Alcântara, quando 21 técnicos morreram na explosão do foguete VLS no ano passado.

A Defesa já tem um acordo assinado com a Rússia para o intercâmbio nesse setor. A compra do Sukhoi é uma seqüência lógica ao quadro, embora o ministro José Viegas negue que haja tal relação.

Além disso, ao tornar-se parceiro da Rússia, o Brasil abriria mais possibilidades de negócios com o país -o que é uma das prioridades da política externa de Lula.

Mas há diversos poréns. Apesar de o Su-35 ser considerado pela própria FAB um aparelho superior aos concorrentes, há uma preferência velada na Força pelo Gripen e pelo Mirage. Há desconfiança em relação ao material russo, usado em uma escala pequena no Brasil, e dúvidas sobre os custos de manutenção e operação.

O Gripen desponta com uma boa proposta comercial e um avião moderno, embora com possibilidades de desenvolvimento futuro duvidosas e características pouco adequadas ao tamanho do Brasil. Nos bastidores, sua proposta de offset, envolvendo empresas suecas, é vista com simpatia por setores ligados ao comércio exterior do governo.

Há também o fator Embraer. Ninguém duvida que a empresa, maior fabricante de aviões do país, vá participar de alguma forma do processo de integração da nova aeronave -ou seja, da adaptação dela a padrões e características de missões da FAB.

A licitação, chamada F-X, sempre foi vista nos meios militares como uma forma de trazer a melhor parceria para a Embraer. Algo semelhante ocorreu na modernização dos caças F-5 da FAB, agora em curso.

Só que a Embraer se associou para oferecer um produto, o Mirage-2000BR, com os mesmos sócios que haviam comprado 20% de seu controle. Isso fechou as portas para outras parcerias, que eram desejadas pela FAB.

Por outro lado, a associação garantiu uma proposta comercialmente sólida com um parceiro tradicional. Além disso, a Embraer é considerada pelos militares uma cria sua -a empresa foi fundada pela Aeronáutica e privatizada em 1994.
Recentes declarações de Viegas, ainda que negadas depois, indicaram que a Embraer irá acabar participando do projeto. O “”como” é uma incógnita nesse momento, o que leva alguns dos concorrentes a acreditar que a regra do jogo ajuda a Embraer.
A comissão que analisou o relatório da FAB descartou o aspecto de criação de empregos por completo. Diferentemente do que a Embraer e a Avibrás propagandeiam, pouquíssimos postos de trabalho serão ganhos.
Ficaram fora da disputa, pelo relatório da comissão, o norte-americano F-16 (Lockheed-Martin) e o russo MiG-29 (RAC). A decisão agora está na mesa de Lula. Deverá ser tomada até abril, e anunciada em reunião do Conselho de Defesa Nacional, formado por vários ministros.
(IGOR GIELOW E RAYMUNDO COSTA)

NOTA DO BLOG: deve-se destacar algumas semelhanças com o processo atual do F-X2

  • As informações contidas no texto acima mostram também que o relatório da FAB vazou naquela época;
  • A FAB apontou um vencedor que não era exatamente aquele que o governo queria, lembrando que durante a camapanha Lula defendeu a Embraer e esta cobribuiu para a sua campanha;
  • Alguns meses depois dessa notícia o ministro Viegas foi substituído e notícias veiculadas recentemente dão conta de que Jobim também deixará o ministério;
  • Houve uma crise política naquela época depois do exército ter publicado uma nota na qual justificava as ações repressivas da ditadura militar. Atualmente existe também uma crise militar.

Pouco tempo depois da notícia transcrita acima a Embraer emitiu uma nota afirmando que considerava uma distorção “atribuir maior valor e importância a compensações de caráter comercial em detrimento daquelas de caráter tecnológico”.

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