Ganhou, mas não levou
Leilão dos jatos F-5B acabou na Justiça
Surgiu então a seguinte pergunta: o que fazer com os F-5B? Eles poderiam ser sucateados, preservados em museu ou mesmo leiloados. A FAB acabou optando por esta última solução. Um leilão foi então marcado para o dia 9 de dezembro de 1996 e um comprador arrematou o lote de de cinco caças pelo valor de 3,1 milhões de dólares. Na verdade apenas a caução havia sido depositada até aquele momento. O restante seria pago na entrega das aeronaves, o que nunca aconteceu.
Ferreira, um tenente-coronel da reserva da FAB, foi a pessoa que arrematou os aviões naquele leilão de 1996. Através de um amigo norte-americano, o empresário Richard Boulais, ele conseguiu os 310 mil dólares (a caução) que foram depositados na Caixa Econômica Federal. A idéia era repassar estas aeronaves para ATSI, uma companhia do Arizona cujo dono era o próprio Boulais. Nos EUA os aviões poderiam levar aventureiros em passeios supersônicos pelo custo de 12.000 dólares por hora de voo ou mesmo arrendá-los para a própria USAF.
Entre idas e vindas a FAB acabou anulando o leilão e Ferreira recebeu o dinheiro da caução de volta. Mas o tenente-coronel não se deu por vencido e partiu para uma batalha jurídica. O tenente-coronel entrou na Justiça Federal com uma ação contra a União. Ao todo, incluindo o dinheiro que ele disse não ter recebido de volta do leiloeiro (115 mil dólares), Ferreira pede 24,7 milhões de reais.
A FAB alega que Ferreira não poderia adquirir as aeronaves sendo pessoa física.Para a Força Aérea não foram preenchidos os requisitos de “end user” exigidos pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e apontados na cláusula 7 do aviso de leilão. Mas se a compra fosse feita diretamente pela empresa ATSI, o negócio teria sido concluído. Na ação que Franco Ferreira move contra a União ele alega que a norma de “end user” só foi aprovada em 1976 e não poderia ser retroativa, uma vez que a compra dos F-5B foi efetuada em 1973.
Dos cinco aviões, dois foram doados para museus. O Museu Aeroespacial do Campos dos Afonsos (MUSAL) recebeu um exemplar (FAB 4800 / USAF 74-1576). O outro seguiu para a TAM e brevemente será exposto no Museu Asas de Um Sonho (São Carlos/SP). Um terceiro exemplar foi repintado com as cores originais do F-5B, retratando antigo modelo F-5B matrícula FAB 4802. Os dois restantes possuem a numeração “3” e “4”. Atualmente estes aviões estão na parte anterior do hangar, pois o mesmo está bastante cheio com os novos F-5 adquiridos da Jordânia.
Por que os F-5B foram comprados e não os F?
Quando a FAB decidiu pela compra do F-5E em 1973 não havia um jato biplace de treinamento perfeitamente compatível com a aeronave. Optou-se então pela aquisição da versão mais antiga, o F-5B, que era praticamente um T-38 Talon com pequenas modificações. Nesta época a USAF ainda estudava a viabilidade de se ter uma versão biplace do caça F-5E. A USAF acabou aprovando o desenvolvimento do F-5F no início de 1974, mais ou menos na mesma época em que a FAB recebeu os três primeiros F-5B. O primeiro F-5F voou em setembro de 1974 e a USAF recebeu o seu primeiro exemplar na metade de 1976. Nesta época a FAB já estava operando todos os seus Tiger II.
Na metade da década de 1980 a FAB procurava por mais caças F-5E e possivelmente substituir os seus F-5B pelo modelo F. Entendimentos com a USAF acabaram originando a compra de 22 F-5E e quatro F-5F. Estes aviões começaram a chegar no Brasil em outubro de 1988. Com a introdução dos quatro F-5F na FAB, esta começou a estudar a aposentadoria dos cinco F-5B então em uso. Os F-5B foram efetivamente desativados em 1996.