EUA podem restringir o uso de sua tecnologia pelo Brasil, qualquer que seja o vencedor do F-X2, pois há tecnologia americana tanto no Gripen como no Rafale

José Meirelles Passos

Além de reafirmar a garantia de transferência de tecnologia do F/A-18 Super Hornet para o Brasil, a Boeing – que disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab um contrato para a venda de 36 caças ao país – melhorou a sua oferta com pelo menos duas iniciativas. Uma delas é a promessa de que empresas brasileiras passariam imediatamente a produzir peças para aviões da Marinha americana; e também, em parceria com a própria Boeing, entrar no mercado global da aviação, passando a fornecer outros equipamentos – inclusive asas e fuselagem do Super Hornet – tanto para os Estados Unidos como para vários outros países.

Essas iniciativas foram reveladas nesta sexta-feira ao GLOBO por dois altos funcionários da embaixada dos EUA em Brasília:

A indústria aeroespacial brasileira se tornaria o principal fornecedor e parceiro da Boeing no mercado global, e especificamente no mercado de defesa dos EUA, que é dez, cem vezes maior que os mercados dos competidores – disse uma das fontes.

Segundo ambas, o governo americano foi autorizado pelo Congresso daquele país a transferir, em termos de tecnologia, “tudo aquilo que foi exigido pela Força Aérea do Brasil”, sem restrições.

– Obtivemos uma autorização sem precedentes de todos os setores do governo, inclusive do Congresso, pois ela foi alcançada antes mesmo de haver um contrato. Autorizaram inclusive o uso de sistema de armas made in Brazil no caça. Essa integração jamais foi feita com os Super Hornets.

Em carta enviada ao GLOBO nesta sexta, a Boeing insistiu no fato de que em agosto o próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, garantira ao governo brasileiro que nenhum item contido na proposta da empresa “será sujeito a nova revisão”.

Na quarta-feira, falando à Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara, em Brasília, Bob Gower, vice-presidente da Boeing, disse que a empresa se compromete a criar no Brasil o Centro de Capacitação da Boeing, cujo foco será trabalhar na evolução da próxima geração de tecnologias:

– Vislumbro um futuro em que caças Super Hornet serão construídos no Brasil. Enxergo ainda um futuro onde Super Hornets serão mantidos e modernizados por brasileiros – disse o executivo.

Confrontados com a promessa da França, que baixou os seus preços e prometeu permitir que o Brasil vendesse os seus caça Rafale a países da América do Sul, os funcionários americanos rebateram:

– Bom, isso agora é uma questão de ver o que o Brasil prefere: entrar no mercado global de aviação (de mãos dadas com a Boeing) ou ter a possibilidade de vendas muito hipotéticas na região.

Os americanos também procuraram deixar claro que, qualquer que seja o resultado da concorrência, os EUA teriam em mãos, se fosse o caso, o poder de vetar potenciais vendas pelo Brasil tanto dos caças Rafale (França) como dos Gripen (Suécia) que viessem a ser montados ou construídos no país:

– Caso os EUA decidissem restringir o uso de sua tecnologia pelo Brasil, isso afetaria todos os competidores, pois há tecnologia americana tanto no Gripen como no Rafale.

FONTE: O Globo

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