‘Correio Braziliense’ entrevista Robert Gower
Executivo da Boeing questiona propostas de concorrentes para venda de caças
O representante da Boeing, que se reuniu com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, nesta semana, questionou a “transferência de tecnologia irrestrita” oferecida pelo governo francês. “Para nós, isso significa ofertar tudo o que é preciso para projetar e construir uma aeronave. Eles possuem, por exemplo, os direitos do chip da Intel, que está dentro da plataforma do avião?”, indagou.
Quanto à outra concorrente, a sueca Saab, Gower alertou para o fato de o caça Gripen NG ainda ser um avião em desenvolvimento, e de os custos e prazos para entrega, nestes casos, sempre serem maiores do que o estimado. Sobre a recente ofensiva da Saab no Brasil — que, nos últimos 10 dias, teve uma audiência pública no Senado, convocou uma coletiva de imprensa e tem publicado anúncios do Gripen NG em jornais brasileiros —, Gower ironizou: “Alguns concorrentes estão mais desesperados por uma venda, porque sem uma venda, eles (os aviões) potencialmente não existem.”
Em visita à Suécia, nesta semana, o presidente Lula disse que a única proposta que ele conhece é a da Dassault. Isso torna a disputa desigual?
O nosso entendimento é que a Força Aérea Brasileira ainda está avaliando as três propostas e levará suas recomendações ao ministro Nelson Jobim e ao presidente Lula. E quando isso acontecer, o presidente poderá ter acesso a todas as propostas, já com as recomendações da FAB. Nós temos argumentos muito convincentes sobre a mesa, considerando que a nossa proposta sairá muito mais barata ao governo brasileiro do que a do Rafale, e o nosso programa de transferência de tecnologia. Acredito que seríamos até 40% mais baratos que o Rafale, tanto nos custos de aquisição como de manutenção.
A Saab disse que, em 40 anos, o custo dos outros concorrentes equivaleria ao de dois Gripen NG. Não seria mais interessante para o Brasil investir então na proposta sueca?
É preciso observar que, hoje, o Gripen NG não é um avião pronto, então qualquer projeção que se faça sobre ele não tem base em uma trajetória. Além disso, a nossa experiência com o desenvolvimento de aviões mostra que os custos sempre acabam sendo bem mais altos do que o esperado e o prazo para entrega, maior. E esse é o grande risco de um programa que ainda está sendo desenvolvido.
O que a Boeing melhorou na sua proposta?
A principal mudança é a possibilidade de finalizar os caças aqui. Nós já tínhamos oferecido fazer uma parte significante da fuselagem e as asas, mas agora temos a oportunidade de entregar os caças a partir do Brasil. Outro ponto significativo é que conseguimos, no início de setembro, a aprovação do Congresso para toda a tecnologia que foi oferecida. Então, não precisamos de nenhuma aprovação adicional.
Mas o que, de fato, poderá ser produzido aqui?
A montagem final dos 24 últimos aviões será feita no Brasil. Isso inclui unir a fuselagem, as asas, colocar a cauda, instalar toda a aviônica (instrumentos de voo) e testar o avião para ver se ele está pronto para voar. Mas, mais do que isso, vamos fazer a frente da fuselagem e uma parte significativa das asas para as 36 aeronaves aqui. E essa fuselagem produzida aqui não será apenas para os caças vendidos ao Brasil. O país poderá produzir para qualquer outra venda internacional que fizermos.
O garoto-propaganda dos caças franceses tem sido o presidente Nicolas Sarkozy, que veio pessoalmente ao Brasil em 7 de setembro. Faltou um pouco desse empenho do governo americano?
Toda a nossa proposta passou pelo governo americano, que enviou ao Brasil assessores próximos ao presidente Barack Obama para reafirmar que Washington aprova a oferta e a transferência de tecnologia. Eles fizeram o que era preciso nesta campanha. O fato de alguém vir aqui e falar sobre compromissos é uma coisa; se preocupar em colocar isso no contrato é outra.
A França oferece transferência de tecnologia irrestrita, e os EUA, transferência de tecnologia necessária. O que é isso significa?
Quer dizer que vamos transferir toda a tecnologia que foi pedida pela FAB. Honestamente, nós não conseguimos entender como alguém oferece transferência de tecnologia irrestrita, porque, para nós, isso significa ofertar tudo o que é preciso para projetar e construir uma aeronave. Eles possuem, por exemplo, os direitos do chip da Intel, que está dentro da plataforma do avião? Nós não fazemos esse tipo de oferta. Essa é a diferença.
Por conta da recente ofensiva do governo sueco, alguns têm considerado apenas a Saab e a Dassault no páreo…
Nós estamos muito mais na disputa do que antes, e a nossa proposta falará por si só. No entanto, alguns concorrentes estão mais desesperados por uma venda, porque sem uma venda, eles (os aviões) potencialmente não existem.
FONTE: Correio Braziliense, via Notimp