Revista Exame: FAB e Embraer preferem Boeing

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Angela Pacheco Pimenta

Como já se sabe, se depender do presidente Lula e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a França – com quem o Brasil já fechou negócio para a compra de cinco submarinos e 50 helicópteros – também deverá fornecer um pacote de 36 caças Rafale para a Força Aérea Brasileira, a FAB, numa transação que pode variar entre 4 bilhões e 8 bilhões de reais.

Além do Rafale, fabricado pela Dassault, também estão na disputa os caças FA-18 Hornet, da americana Boeing, e o sueco Gripen, da Saab. Os três concorrentes devem apresentar uma nova rodada de propostas à FAB na próxima segunda-feira. A decisão do governo deve sair em outubro.

Mas ainda que não comentem a respeito – tanto a FAB, quanto a Embraer, que deverá participar da contrução dos caças e assimilar a transferência de tecnologia exigida do governo brasileiro do fornecedor – preferem o caça FA-18 Hornet, da Boeing.

Para a Embraer, a preferência pela Boeing é claramente comercial. De saída, a empresa brasileira participa de uma licitação de 100 aviões leves de combate, como o Super Tucano, para a Força Aérea Americana, que pretende usá-los em cenários de guerra de guerrilha, como no Afeganistão.

As duas transações são independentes. Mas se o Brasil optar pelo FA-18, a Embraer deverá contar com maior simpatia dos americanos pelos Super Tucanos.

Outro ponto importante para a Embraer é o interesse já manifesto pela Boeing em desenvolver com a empresa brasileira um avião cargueiro militar, o KC-390, também a ser vendido para as forças armadas brasileiras.

O presidente francês Nicolas Sarkozy disse que a França gostaria de desenvolver um cargueiro com a Embraer. Mas acontece que a Airbus, que é sediada na França, já trabalha num projeto similar ao KC-390.

Já do ponto de vista da FAB, a preferência pela Boeing diz respeito à superioridade técnica do FA-18 sobre o próprio Rafale e o Gripen.

Aliás, nos últimos anos, o Rafale, que é fabricado pela Dassault, perdeu cinco disputas internacionais para o FA-18, em países como a Coreia.

Um dos trunfos do FA-18 é o seu sistema de radar AESA, desenvolvido pela Raytheon, que permite que o avião se torne invisível para o inimigo, que uma vez detectado pode ser fulminado antes mesmo de saber que estava sendo perseguido.

Além disso, para a FAB, a superioridade técnica da Boeing tem a ver com o sistema de navegação GPS.

Os americanos possuem a única constelação de satélites do mundo dotada da tecnologia. O GPS permite a localização exata de um objeto na superfície terrestre ou próximo dela, independente de condições meteorológicas ou de luminosidade.

Cabe ao Pentágono licenciar o uso do GPS para fins civis e militares em todo o mundo.

Logo, se comprar os Rafales, o Brasil continuará dependente dos americanos, ainda que indiretamente. A importação do GPS certamente tornará o pacote francês mais caro para o Brasil.

Desde o início da década que a União Europeia analisa a construção de um sistema GPS próprio. Mas a proposta, que está longe de sair do papel, custaria pelo menos 20 bilhões de dólares.

Outro aspecto que até agora vem sendo ignorado por Lula e Jobim – mas que é de interesse dos comandantes brasileiros – é a transferência tecnológica enquanto treinamento.

Só um piloto muito bem treinado consegue um rendimento máximo em ação. E nesse quesito, mais uma vez os militares brasileiros tem mais intimidade com os americanos, que por sinal tem as forças armadas mais bem treinadas do mundo.

A discussão sobre transferência tecnológica dos caças está restrita à resistência americana em permitir que a tecnologia a ser cedida para o FA-18 Hornet no Brasil seja revendida para países indesejáveis para os EUA, como a Venezuela ou o Irã.

Os americanos já declararam que o Brasil não teria carta branca para revender os FA-18 “made in Brazil”.

De forma explícita, a provável decisão brasileira em comprar os Rafales vai se apoiar nesse aspecto.

Mas de forma velada, a intenção do governo Lula em se alinhar à França tem a ver com a intenção de demonstrar aos nossos vizinhos latino-americanos independência em relação a Washington.

No governo brasileiro, o Itamaraty tem dado sinais de que essa seria uma resposta em boa hora à Casa Branca, poucos meses depois do anúncio da instalação de bases militares americanas na Colômbia de combate ao narcotráfico.

O anúncio gerou uma enorme polêmica na Unasul, que reúne os países sul-americanos, com anti-americanistas notórios, como os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Rafael Corrêa, do Equador.

Com razão, o Brasil não gostou da maneira como os americanos trataram o tema, não consultando, ou pelo informando Brasília de antemão a respeito.

Mas para o bem da segurança nacional, da FAB e do contribuinte brasileiro – que vai pagar a conta – é preciso esclarecer todos os aspectos – geopolíticos, técnicos e comerciais – que cercam a maior compra de aviões militares pelo Brasil desde 1973.

NOTA do BLOG: Conforme já exposto aqui, a Airbus não possui um projeto similar ao KC-390. O A400M está em outra categoria.

A Embraer depende sim do mercado norte-americano. Mas não exatamente da forma como foi exposta no texto. Os EUA são os maiores consumidores dos E-Jets fabricados pela Embraer. Manter e expandir este mercado é muito mais lucrativo para a empresa do que vender uma centena de turboélices.

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