Os Rafales e a cobiça internacional

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Carlos Chagas

Ponto para o presidente Lula ao justificar a mega-compra bélica na França como forma de defender o pré-sal e a Amazônia. Toda longa marcha começa pelo primeiro passo.

O importante na decisão de equipar não propriamente melhor, mas menos pior, nossas forças armadas, foi o reconhecimento de duas evidências até agora encobertas pelas elites nacionais: o petróleo tem sido causa maior de sucessivas guerras e invasões no planeta, de um lado, e, de outro, a cobiça internacional permanente que ameaça a floresta amazônica.

O governo Lula passa a admitir aquilo que a administração neoliberal de Fernando Henrique desprezava e até açulava. Mesmo assim, haverá que mantermos os pés no chão. Décadas passarão antes que o Brasil se considere preparado para defender a Amazônia e para impedir que o pré-sal venha a ser disputado pelas grandes potências.

Tome-se a compra dos caças de última geração, os Rafales, que vamos receber da França em prazo não inferior a cinco anos. Serão 36. Basta atentar para o fato de que um simples porta-aviões dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Rússia e da própria França carregam, cada um, perto de 90 caças de igual potencial aos que agora adquirimos a prestação.

Só na comparação com os Estados Unidos, 900 caças moderníssimos poderiam estar sobrevoando a Amazônia em quinze minutos, se dez dos porta-aviões que Washington possui chegassem ao nosso litoral ou estacionassem numa das sete bases instaladas na Colômbia. Para não falar do Peru.

Vale o mesmo para o submarino nuclear que veremos terminado dentro de dez anos. Só a ex-União Soviética deixou enferrujar quinze deles quando submergiu como potência mundial. Mas a Rússia conservou pelo menos outros vinte, em pleno potencial de ação. Os americanos possuirão mais de trinta, contra o nosso ainda fantasma no papel.

Não adianta ser pessimista numa hora dessas. Melhor acender um fósforo do que amaldiçoar e lamentar a escuridão, de onde podemos estar saindo. O governo Lula deu a partida, reconhecendo as ameaças à nossa soberania e às nossas riquezas, é o que importa.

FONTE: Jornal do Commercio / COLABOROU: Tales Braun Pivatto

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