Qualquer que seja o resultado da concorrência que definirá os novos caças da FAB, um vencedor parece mais do que definido. Como a quarta maior fabricante de aviões do mundo, a Embraer virou a noiva cortejada em um negócio de US$ 2 bilhões que pode aumentar ainda mais sua participação no mercado internacional. Isso porque, encerrada a fase de fechamento das propostas de parceria com empresas nacionais para a transferência de tecnologia, tanto a Boeing (F-18E/F Super Hornet) quando a Saab (Gripen NG) declararam que o namoro com a brasileira está pelo menos anunciado.

A diferença entre as cantadas americanas e suecas é a abordagem. Os gringos, detalhistas e diretos, fecharam 10 dos 27 pontos de offset com a brasileira. Já os suecos tentaram ganhar a atenção da eventual sócia com um acordo mais abrangente e potencialmente, em termos, bastante atraente, por não ser limitado aos termos da concorrência.

De acordo com o diretor da Saab no Brasil, Bengt Jáner, a Embraer será a única fabricante de jatos de caça no Hemisfério Sul e será também a única a poder comercializar o caça no mercado mundial. Ainda que o volume de encomendas não seja tão expressivo nesse momento – o NG, de Next Generation, ainda está em desenvolvimento – trata-se de uma possibilidade importante para que os brasileiros possam se tornar construtores e vendedores globais.

É importante lembrar que a Suécia é o único país fora os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que também produz aeronaves de caça. Essa associação dá ao Brasil uma posição muito vantajosa – explica Jáner, em um encontro esta semana no aeroporto Santos Dumont.

De acordo com as exigências do edital criado pelo Ministério da Defesa, os três concorrentes no páreo final (além do Gripen e do F-18 o Rafale francês) precisam apresentar contratos de tranferência de tecnologia 80% em termos diretos, ou seja, para uso na plataforma do jato, 15% indiretos – aplicações em softwares para controle de vôo, por exemplo – e os 5% restantes para aplicações à escolha da empresa.

Seguindo o estilo diferenciado da proposta sueca – menos atrelada às estratégias das autoridades militares do país nórdico e muito mais às comerciais – uma das empresas escolhidas é a Akaer, um escritório de design de São Paulo.

– Esse é o caso em que, independentemente do resultado da concorrência, nos interessa ter um tipo de desenvolvimento de produtos permanente – afirma o diretor da Saab, citando ainda como parceiros diretos a Mektron, a Atec e a Aeroeletrônica.

A parte indireta da transferência também reforça a imagem que tive ao conhecer as cidades da Ciência no interior sueco, verdadeiras incubadoras em massa de novos produtos e tecnologias. De acordo com Jáner, há conversas adiantadas, por exemplo, com o Porto Digital, de Pernambuco, e com outros centros de produção de softwares na Bahia e mesmo no Rio, com a Coordenação de Programas de Pós Graduação da UFRJ (Coppe). Um pacote assim também seria maior atrativo para a participação da Embraer.

O representante da Saab está seguro quanto ao que os adversários atribuem como desvantagem do NG ser um avanço – o fato de não estar em produção deixaria claro que o Brasil poderá desenvolver o produto da forma que achar necessário, junto com os suecos. As soluções técnicas dariam ganho estratégico aos militares brasileiros. Outros pontos a favor são conhecidos: ser um jato monoturbina (que os rivais criticam porém significaria US$ 50 milhões a menos em manutenção) e a sua flexibilidade. Jáner cita o esquadrão Grifo, da FAB, que usa os SuperTucanos da Embraer. Como o desempenho do NG é parecido em alguns pontos – capacidade de pousar e decolar em pistas curtas ou estradas, como no conceito nacional de defesa da Suécia – poderia haver um aproveitamento dos pilotos treinados para o turbohélice direto para a operação com o Gripen NG.

FONTE: JB Online

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