Brasil terá outra base para lançar foguetes
Devido à crise financeira mundial, o governo botou o pé no freio do complexo espacial (antes chamado de centro), mas seguiu adiante com o VLS e com o acordo firmado com a Ucrânia para o lançamento da quarta geração do foguete Cyclone a partir de Alcântara. Devido ao conflito com os quilombolas, a Alcântara Cyclone Space (ACS) teve de se transferir para dentro da área onde a Aeronáutica desenvolve o VLS. O programa não será afetado e o gestor brasileiro da empresa binacional, Roberto Amaral, diz que o lançamento teste ocorrerá entre outubro e novembro de 2010 – no início, a previsão era julho.
Sem área para ampliação, as autoridades brasileiras decidiram construir o CEB no litoral do Nordeste. Embora digam que ainda estudam sítios na região, o local escolhido fica no entorno do porto de Pecém, no Ceará.
Em relação a Alcântara, o local tem a vantagem de permitir uma redução nos investimentos necessários à implantação do complexo. Em Alcântara, por exemplo, será necessário construir um porto e uma estrada de 51 quilômetros, infraestrutura que já existe em Pecém. Além disso, a região é próxima de Fortaleza, tem um centro universitário em Sobral, ou seja, boa parte da infraestrutura que teria de ser feita no Maranhão.
Além disso, Pecém também dispõe de uma localização privilegiada para o lançamento de veículos com satélites: está a 3,2 graus em relação à linha do Equador, enquanto a base francesa de Kourou, na Guiana, o centro mais bem localizado do mundo para esses lançamentos, está a 5,2 graus da linha do Equador. Mas imbatível mesmo é Alcântara – está a 2,2 graus, o que significa enorme vantagem competitiva: cada lançamento feito a partir da ilha maranhense pode custar até 30% menos que de outras bases instaladas por todo o mundo, principalmente devido à economia de combustível.
A região de Pecém conta também com a vantagem de ser próxima ao mar, assim como Alcântara. Isso é importante porque permite a liberação de estágios – ou até destroços – do foguete com a segurança de que eles não cairão em áreas habitadas na terra. “Ainda mantemos a vantagem comparativa com relação a Kourou”, disse ao Valor um dos dirigentes do programa espacial brasileiro.
Não é raro um país ter mais de um centro de lançamento de foguetes localizados em regiões diferentes. O programa com a Ucrânia, em Alcântara, deve custar US 400 milhões, até o lançamento do foguete de qualificação (o primeiro). Mas o CEB, no litoral nordestino, vai requerer um investimento muito maior, ainda guardado em segredo pelas autoridades, mesmo que boa parte das obras de infraestrutura previstas para Alcântara não sejam mais necessárias.
O conflito com os quilombolas deve entrar na pauta da reunião de quarta-feira. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deve pedir uma extensão do sítio de 9,2 mil hectares no qual estão agora abrigados a ACS e o programa do VLS da Aeronáutica. Quem decretou a área quilombola foi o Incra, que conta com o apoio da Secretaria da Igualdade Racial para a decisão. Defesa e o Ministério da Ciência e Tecnologia foram contrários à extensão decretada.
Além da questão dos quilombolas, Lula ouvirá um relato das conversas que o presidente da ACS, Roberto Amaral, manteve em viagem recente à Ucrânia. A principal novidade a ser contada por Amaral é que a indústria brasileira, pelos entendimentos feitos com os ucranianos, também vai participar da fabricação do foguete Cyclone 4 – uma evolução do Cyclone 3, já em uso para colocar satélites em órbita. A industria brasileira deve participar da fabricação de equipamentos, inclusive componentes do motor do foguete.
Pecém, no entanto, deve ser obra para o próximo governo. No momento, a prioridade é lançar o foguete ucraniano Cyclone 4, nas proximidades da eleição de outubro do próximo ano.
FONTE: Valor Econômico, via Notimp
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