Pouca elegância
É lamentável que atuação de autoridades políticas suscite desconfianças a respeito da compra de equipamentos militares
Os viajantes não são os responsáveis diretos pela escolha, embora Temer participe do Conselho de Defesa Nacional, organismo que deverá referendar a decisão. Os parlamentares entretanto desempenham papel importante na aprovação do Orçamento militar pelo Congresso. A compra dos 36 caças é estimada em pelo menos R$ 4 bilhões. O valor poderá chegar ao dobro, a depender das especificações finais.
Não há dúvida de que a decisão terá de subordinar-se a critérios técnicos, e a FAB dá sinais de tratar o assunto com o devido cuidado. Mas num quadro em que se equiparem as vantagens e desvantagens militares e de transferência de tecnologia das diversas propostas, como acredita-se que possa ser o caso, ganha peso o ingrediente político.
Nesse terreno não são apenas os parlamentares que merecem críticas. É também equivocada a atuação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao manifestar indiretamente preferência pelo caça francês, fabricado pela Dassault, que concorre com a norte-americana Boeing e a sueca Saab.
Como se sabe, Jobim foi o artífice de um acordo com a França para a compra de helicópteros e submarinos, com tecnologia para uma versão movida a energia nuclear, numa operação que mobilizará recursos da ordem de R$ 20 bilhões ao longo de anos.
Ao sinalizar que a inclinação do governo é pela proposta da França, o ministro suscitou indagações sobre o grau de elegância dos lobbies franceses junto ao Executivo brasileiro. Aspectos controversos do acordo já firmado, como a real necessidade da construção de um novo estaleiro para fabricar os submarinos e os custos mais baixos de modelos convencionais alemães, ficaram envolvidos em atmosfera de dúvidas e desconfianças.
Além disso, o ministro abriu a porta para uma situação embaraçosa com a cúpula da Aeronáutica, caso ela conclua ser mais vantajoso optar pelo avião norte-americano ou pelo sueco.
Acordos militares são, em geral, cercados de sigilo, o que favorece especulações. É lamentável, no caso, que o comportamento das autoridades políticas brasileiras, em vez de contribuir para tranquilizar a opinião pública, embase temores sobre as condições que cercam negociações e escolhas tão importantes.
FONTE: Folha de São Paulo