Nem P-3C, nem Atlantique 2, nem AWACS. R-99 é a solução

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Dizem que são nos momentos ruins que extraímos grandes lições. O que aconteceu com o voo AFR 447 da Air France na noite de domingo para segunda-feira foi uma tragédia de grandes proporções cuja origem será fruto de uma longa investigação. Mas podemos sair de cabeça erguida no desempenho dos trabalhos de busca e salvamento (SAR).

Quando o Comando da Aeronáutica recebeu a informação do desaparecimento do voo AF 447, foram tomadas as medidas de praxe, como o acionamento das unidades e dos órgãos competentes para o desenvolvimento das atividades de busca e resgate.

Em um sinistro como esse o Esquadrão Pelicano (2º/10º GAv) é logo acionado e em pouco tempo estará voando na direção indicada pelo comando da coordenação do resgate. O esquadrão está passando por mudanças no momento, sendo que os Bandeirantes especializados em SAR estão sendo substituídos pelos C-105 “Amazonas”. Foi exatamente esta última aeronave empregada no caso do voo AF 447. Após a conclusão dos trabalhos, o pessoal do esquadrão poderá fazer uma melhor avaliação do desempenho do novo equipamento, como ele pode ser melhorado e qual a sua influência na condução dos trabalhos.

O emprego dos Bandeirulhas do 1º/7º GAv (baseado em Salvador-BA) também já era previsto uma vez que esta é a unidade de esclarecimento marítimo da FAB mais próxima do local do desaparecimento.

Outra aeronave da FAB cuja participação era dada como certa na campanha de busca e salvamento era o C-130 Hercules. Este avião já mostrou do que é capaz em missões desse tipo, não só nas mãos de pilotos brasileiros, mas ao redor do mundo também. A FAB possuía uma versão específica para busca e salvamento denominada SC-130E. No entanto, esta versão já estava bastante desatualizada e quando teve início o programa de modernização dos Hercules na FAB, os remanescentes foram elevados para o padrão C-130H e concentrados no Rio de Janeiro (Galeão e Afonsos).

Pelo lado francês foi mobilizado, de imediato, um Breguet Atlantique 2 e um Dassault Falcon 50M. Posteriormente a França solicitou a ajuda dos EUA, que enviaram um Lockheed P-3C Orion, e incorporou um AWACS do ‘Armée de l’air’ à equipe de busca. A Espanha também passou a ajudar nas buscas.

Entra em cena o ‘Guardião’

Com menos destaque e uma certa dose de desconfiança, a FAB decidiu também utilizar uma aeronave R-99B, pertencente ao 2º/6º GAv – Esquadrão Guardião. Era a primeira vez que este tipo de avião seria empregado em uma operação de busca desta magnitude e sob os holofotes do mundo todo. Seria possível empregar uma aeronave desenvolvida para o SIVAM na busca de destroços em alto-mar?

O R-99B de matrícula FAB 6751 passou a operar a partir de Fernando de Noronha. Às 22:35h do dia 1º de junho a aeronave decolou do pequeno aeródromo daquela ilha. As horas passavam e as notícias sobre indícios não apareciam. Nada foi dito oficialmente, mas corria o temor de que a FAB não fosse capaz de localizar a aeronave ou os seus destroços. Surgiu uma certa desconfiança, tanto interna como externa. Mas a equipe de coordenação da missão de busca e resgate não perdeu o foco.


Já era madrugada do dia 2 de junho quando o R-99, em uma de suas varreduras com a utilização do radar de abertura sintética, identificou alguns “retornos”. Estes indicavam a existência de materiais metálicos e não metálicos flutuando no oceano. A escuridão da noite não permitia a identificação visual dos “retornos”, mas suas posições foram marcadas e a busca foi replanejada.

No dia seguinte, um Hercules da FAB decolou e avistou alguns destroços sobre o mar, além de uma mancha de óleo. Era a confirmação dos “retornos” identificados pelo R-99.

O sucesso da primeira missão foi seguido de um outro resultado positivo. Na madrugada de terça para quarta-feira, por volta das 3:40h, mais alguns destroços foram detectados sendo que um deles possuía cerca de 7 m de diâmetro. Também foi identificada uma mancha de óleo de 20 km de extensão. Quando clareou o dia, um Hecules da FAB sobrevoou o local e confirmou novamente o que o R-99 “viu” durante a noite. Não havia mais como negar. O uso do R-99 na operação foi uma das decisões mais acertadas e uma das surpresas mais gratas. Surpresa para muitos, menos para o pessoal do próprio Esquadrão Guardião, que nunca deixou de acreditar na qualidade do material que dispunha.

Dedicação e competência nunca faltaram aos aviadores da FAB. Juntando-se estes ingredientes com equipamento no estado da arte, o resultado não poderia ser diferente. Infelizmente sobreviventes não foram encontrados até o momento. Mas é certo de que o R-99 poderá salvar muitas vidas no futuro. Esta é a lição deste trágico acidente.

Parabéns à FAB pelo trabalho e à Embraer, pelo desenvolvimento desta fantástica máquina.

FOTOS: FAB

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