F-35: jogando a pá de cal no programa F-22
Artigo publicado no Washington Post, assinado pelo Secretário e pelo Chefe do Estado Maior da USAF, justifica o final das encomendas do F-22
O Secretário da Força Aérea dos Estados Unidos, Michael Donley e o Chefe do Estado Maior da Força, General Norton Schwartz assinaram um artigo publicado no Washington Post nesta segunda-feira, 13 de abril, em que são mostrados os argumentos para finalizar a produção do F-22 Raptor com as últimas 4 aeronaves autorizadas para o ano fiscal de 2009. E uma das grandes justificativas do artigo “Moving beyond the F-22” (Indo além do F-22) para o final da produção do Raptor é justamente o início da produção do F-35 Lightning II. Seguem os principais argumentos desenvolvidos no artigo, que vale a pena ler com atenção:
Segundo as duas autoridades, o debate político sobre a continuidade da produção do F-22 foi um dos mais controversos dos últimos tempos, com grande manifestação dos lobbies contra e a favor. Ambos reconhecem que o F-22 é o caça mais capaz do inventário das Forças norte-americanas, com vantagens em furtividade e velocidade, além de sua capacidade de ataque ao solo, apesar de otimizado para combate aéreo. Assim, a questão da continuidade da produção foi analisada sob vários ângulos, levando em conta as prioridades estratégicas que competem com o programa e as alternativas, à luz dos recursos orçamentários disponíveis.
Quando o programa foi iniciado, ao final da Guerra Fria, estimava-se a necessidade de 740 Raptors. Com o tempo e as reavaliações que levaram em conta os novos possíveis conflitos, concluiu-se que um progressivo mix de aeronaves, armas e redes mais sofisticadas produziria o poder de combate necessário com menos plataformas. Combinando essas conclusões aos custos crescentes do programa F-22, o Departamento de Defesa aprovou em dezembro de 2004 o número total de 183 Raptors. Mas a USAF, baseada em diferentes projeções, já havia chegado a uma conclusão diferente, de que 381 aeronaves seriam necessárias para assegurar baixo risco a uma frota de F-22. Rediscutido o assunto com o Departamento de Defesa, chegou-se a um número de 243 Raptors como uma solução de médio risco.
Porém, desde então, outros importantes fatores foram colocados na balança: as experiências acumuladas em conflitos nos últimos anos, as projeções para os próximos, além do fato de que adquirir 60 aeronaves adicionais do modelo para chegar aos 243 demandaria 13 bilhões de dólares, não provisionados, numa realidade de orçamentos mais restritos, de maneira que comprar mais F-22 significaria comprar menos de outros programas da própria USAF, que não vive apenas de combate aéreo – capacidades de inteligência, vigilância e reconhecimento, comando e controle, espaço e ciberespaço, forças de dissuasão nuclear, e capacitação para o conflito irregular têm que ser atendidas.
Assim, as duas autoridades veem como prudente considerar futuras compras de F-22 numa perspectiva mais ampla de revisão do orçamento de defesa de 2010 pelo presidente Obama, ao invés de uma decisão isolada. Nessa perspectiva, afirmam que deve ser analisada a relação entre o F-22 e o F-35, que está nos estágios iniciais de produção. As duas aeronaves vão trabalhar juntas nos próximos anos, a primeira otimizada para o combate ar-ar, a segunda para o ar-superfície, porém ambas com capacidades multi-role, já que futuras modernizações na frota de F-22 já estão planejadas. Considerou-se a necessidade da produção do Raptor ser prolongada, como um fator de segurança enquanto o programa F-35 avança para a fase de produção plena. Análises mostraram que essa hipótese seria não apenas cara, mas que, embora o F-35 ainda poderia apresentar problemas a resolver, haveria pouco risco de ocorrer uma falha catastrófica em sua linha de produção. Como muito se espera do F-35, seria então imprescindível mantê-lo no cronograma e no orçamento, chegando o momento de fazer a transição entre a produção do Raptor e do Lightining II. Some-se a esses fatores a questão de que o trabalho para desenvolver as capacidades de sexta geração, necessárias para o domínio aéreo do futuro, deverá começar logo, nos próximos anos.
Por fim, uma tradução mais literal da conclusão do artigo: ” Nós damos suporte à produção dos últimos quatro F-22 propostos na última requisição suplementar no ano fiscal de 2009, já que isso ajudará na viabilidade a longo prazo da frota de F-22. Mas chegou a hora de fechar a linha de produção (destaque nosso). É por isso que não recomendamos que o F-22 seja incluído no orçamento de defesa do ano fiscal de 2010. Mas não duvidem: o domínio aéreo continua sendo uma capacidade essencial para operações conjuntas de guerra. O F-22 é uma ferramenta essencial no arsenal militar e continuará no nosso inventário pelas próximas décadas. Mas chegou a hora de avançarmos”.
Fonte e fotos: USAF
Nota do Blog: recomendamos também a leitura de matéria publicada há poucos dias (clique aqui para acessar) sobre a proposta de cortes profundos na aviação tática da USAF, para uma visão mais geral de todo o processo de revisão de gastos em andamento.