Orlando Neto, vice-presidente: “Cargueiro deverá exigir contratação futura de pelo menos 2 mil funcionários diretos”

Jefferson Dias/Valor Online

O novo cargueiro militar da Embraer, o KC-390, será desenvolvido em regime de parcerias estratégicas, a exemplo do que foi feito nos seus programas de jatos comerciais. Em entrevista exclusiva ao Valor, o novo vice presidente da Embraer para o mercado de defesa e governo, Orlando Ferreira Neto, disse que a empresa já conversou diretamente com cerca de 30 países, potenciais parceiros industriais e tecnológicos do projeto.

“No estudo de mercado feito pela Embraer, em conjunto com a Força Aérea Brasileira (FAB), foram identificados 79 países com perfil para se tornarem parceiros de risco na parte industrial e tecnológica do KC-390”, disse Neto. Segundo fontes, vários países da América Latina, a África do Sul e a França estão entre os países aos quais a Embraer já apresentou o conceito e as necessidades da missão especificadas pela FAB para o novo avião.

O KC-390, disse Neto, é uma das apostas da empresa para o momento de crise, que obrigou a companhia a demitir 4,2 mil funcionários. “A nossa área de pesquisa e desenvolvimento foi preservada. Hoje, temos 400 engenheiros dedicados aos negócios de defesa. O novo cargueiro vai gerar uma necessidade de contratação futura de, pelo menos, mais 2 mil funcionários diretos”, afirmou.

Engenheiro aeronáutico pelo ITA, Neto assumiu essa divisão de negócios da Embraer em janeiro. No início de 2007, foi designado diretor de marketing e vendas para Ásia e Pacífico, em Cingagura.

Trata-se de um projeto de sete anos. A Embraer já iniciou com a FAB a fase de estudos preliminares e a busca de parcerias estratégicas. “Temos 12 meses para concluir esses estudos e definir a configuração do avião e mais 12 meses para fazer os detalhamentos iniciais”. O investimento previsto é de cerca de US$ 800 milhões, segundo fontes. A empresa não revela valores. O KC-390, avião de transporte logístico e reabastecimento em voo, vai disputar um mercado de 700 aeronaves, o que representa negócios da ordem de US$ 50 bilhões.

O pontapé inicial do projeto será em abril, com o anúncio da liberação de recursos iniciais de R$ 60 milhões. Segundo o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Ceconfaer), a assinatura do contrato de desenvolvimento inicial do projeto, entre a fabricante e a FAB, deverá acontecer durante o evento da LAAD (Latin America Aerospace and Defense), a maior feira de segurança e defesa da América Latina, que ocorrerá de 14 a 17 de abril, no Rio. Para a Aeronáutica, o KC-390 tem elevado potencial de exportação e tornar o Brasil grande fabricante nesse segmento.

O plano de desenvolver um novo avião militar, o maior já montado pela Embraer até o momento, segue a mesma filosofia aplicada aos jatos comerciais. “A única diferença, neste caso, é que por se tratar de um programa de governo, os parceiros industriais estarão atrelados aos interesses do Brasil, sem deixar de levar em conta os objetivos comerciais da Embraer”, explicou.

O desenvolvimento de uma nova aeronave por meio de parcerias estratégicas, segundo Neto, traz uma série de vantagens para o fabricante e também para os fornecedores. Entre essas vantagens, o executivo cita o compartilhamento de custos e riscos, a criação de laços de longo prazo entre as indústrias, as forças armadas e os governos de diversos países, além de estabelecer cotas de participação nas vendas.

“Outra característica importante dessas parcerias é que elas propiciam um enriquecimento das especificações técnicas de um avião e a possibilidade de se fazer um produto mais adequado para as necessidades do mercado”. Para o programa do 145 a Embraer contou com a ajuda de quatro empresas parceiras e uma centena de fornecedores. O desenvolvimento dos jatos 170/190 mudou um pouco o conceito de parceria de risco e contou com 16 parceiros de risco e 22 fornecedores. “Nesse programa, o envolvimento e a responsabilidade do parceiro eram mais amplos”.

As dificuldades encontradas pela Embraer no mercado de aviação comercial, aumentou a importância do setor de defesa, que surge como uma alternativa estratégica para a empresa restabelecer forças e superar a crise. “A área de defesa da Embraer cresceu muito nos últimos dois anos e tem hoje uma dimensão bem diferente do que tinha há sete anos, devido a sua expansão mercadológica”, disse.

Até o terceiro trimestre de 2008 a área de defesa representava 8,8% da receita. “Vamos crescer muito mais em 2009 e o KC-390 terá um papel fundamental na expansão dos negócios da Embraer nessa área nos próximos 20 anos”.

Além do cargueiro, a área de defesa da Embraer sobrevive dos programas do avião de treinamento SuperTucano, que tem encomendas importantes da Colômbia, Chile, República Dominicana e da FAB; a modernização da frota de AMX e F-5 da Aeronáutica, o desenvolvimento de três aviões de vigilância aérea para a Índia e a venda de oito aeronaves de transporte de autoridades para governos. Destes, dois são do modelo 190 e serão usados no transporte de autoridades do governo brasileiro. A entrega dessas aeronaves está prevista para os próximos meses.

ARTE: Leonardo Jones <skyway2br@yahoo.com.br>

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