Continua repercutindo declaração do MinDef sobre o FX-2
Uma declaração do ministro Nelson Jobim (Defesa) em um programa oficial de rádio na semana passada, admitindo a reinclusão no jogo de dois concorrentes eliminados da concorrência para o fornecimento de 36 aviões de combate para o Brasil, colocou em polvorosa a FAB e os finalistas do chamado F-X2, como é chamado o negócio de US$ 2 bilhões.
Disse Jobim no “Bom Dia, Ministro”: “Ontem (4/2) eu recebi no Ministério da Defesa a visita da Rosoboronexport, que é a empresa russa que elabora o Sukhoi (…) e deseja trazer complementos para ver a possibilidade de ser reexaminado, eu disse que era possível trazer esse material e que a FAB examinaria. O mesmo se passou com os europeus, os italianos em relação ao Eurofighter. Ou seja, nós teremos lá por julho, agosto, nós vamos ter uma decisão final das opções técnicas da FAB, para depois tomarmos a decisão política”.
O Comando da Aeronáutica diz que não foi informado de tal revisão. Procurada, a Defesa afirma que a frase de Jobim não implica mudança na disputa, que tem três finalistas: Dassault (França, com o Rafale), Saab (Suécia, com o Gripen) e Boeing (EUA, com o F-18).
Jobim fala em analisar as propostas do russo Sukhoi-35 e do consórcio europeu que faz o Eurofighter (representado pela Itália), “por julho, agosto” -ou seja, quando a FAB pretende apresentar o relatório final.
Como russos e italianos foram eliminados pela FAB, a pergunta que alguns brigadeiros estão se fazendo em voz baixa é: há risco de o processo seletivo ser descartado em favor de uma decisão política, jogando fora meses de análise técnica e econômica?
Não que não haja política interna na FAB. Cada avião finalista tem seu grupo entusiasta, assim como os russos mantêm um forte lobby -que emplacou a compra avulsa de 12 helicópteros de ataque no fim do ano.
Oficiais influentes junto ao comandante Juniti Saito têm mostrado simpatia pelo projeto sueco, enquanto o francês é o preferido dentro da Defesa. Saito já tinha marcado um ponto ao tirar o F-X2 do acordo militar bilionário com a França costurado por Jobim. Assim, a obviedade de que a decisão é política acabou soando como ameaça na voz do ministro.
A Rosoboronexport confirmou que irá enviar os novos dados. A Folha apurou que em Moscou a expectativa não é tanto de uma virada de mesa, mas de embaralhar o processo. Uma eventual análise de sua proposta fora da seleção é vista como senha para o questionamento político do F-X2 -juridicamente, por ser uma compra militar dispensada de licitação, há poucas opções de recurso. Os italianos, cujo representante não foi encontrado, não têm esperanças reais.
Mas se houver a confusão, os preteridos tendem a ganhar: se não fechar o negócio até o fim do ano, a FAB terá dificuldade de fazê-lo no ano eleitoral de 2010. E a novela poderá ser reiniciada, como na primeira versão do F-X, cancelada em 2005.
FONTE: Folha de São Paulo, via NOTIMP