Caças bizarros que quase vingaram parte 4
Saunders-Roe SR.A/1: o baiacu a jato
Novamente o apelido de um caça desta bizarra série do Blog do Poder Aéreo é uma licença poética deste autor. Mas, convenhamos, as fotos não desmentem a semelhança com o dito peixe, e se levarmos em conta que o novo integrante da série é um hidroavião, não devem restar dúvidas de que o britânico jato e o simpático baiacu nadavam pro mesmo lado em design.
A idéia surgiu em 1943, ditada pelas necessidades do teatro de operações do Pacífico na II Guerra Mundial, e a princípio não era ruim: unir as vantagens da velocidade que poderia ser obtida com os novos motores a jato com a capacidade dos hidroaviões de não dependerem de pistas em terra, produzindo um hidroavião de caça que superasse qualquer inimigo de motor a pistão. Ruim foi o “timing”.
O contrato para três protótipos com as especificações talhadas para a proposta da Saunders-Roe até que não demorou muito, sendo assinado em maio de 1944, quando o destino da Guerra no Pacífico ainda parecia bem longe de ser definido (o caminho da vitória sobre os japoneses estava traçado, mas imaginava-se que o final chegaria bem depois do que efetivamente chegou). A guerra acabou antes que o primeiro dos protótipos voasse, isso numa época em que o desenvolvimento de aeronaves se media em meses, dadas as circunstâncias, e não em anos. Quando o protótipo número 1 voou, em julho de 1947, o caça que poderia ter vingado dois anos antes já estava ultrapassado pela história, pela geopolítica e pelo próprio desenvolvimento aeronáutico.
Não obstante, os outros dois protótipos foram construídos e voaram, em abril e agosto de 1948, com motores cada vez mais potentes para melhorar o desempenho do “gordo” jato (começando com 2 turbojatos Metropolitan Vickers F2/4 Beryl de 1.465 kgp no primeiro exemplar e chegando a 1.746 kgp no terceiro). A velocidade máxima de 824 km/h, que seria competitiva anos antes, já era amplamente superada às vésperas dos anos 50. Se bem que, olhando suas asas retas e grossas de 14,04 m de envergadura e a fuselagem “gorda” com 15,24 m de comprimento, que acomodava 4 canhões de 20mm no nariz, é até surpreendente que atingisse esse desempenho.
Mas o fato é que simplesmente não restava mais, na época em que voaram os protótipos, nenhum requerimento operacional para um hidroavião de caça, e nem mesmo uma retomada do interesse por parte dos britânicos pelo tipo, durante a guerra da Coréia, impediu que o projeto fosse abandonado em 1951. Curiosamente, o mesmo ano em que um outro hidroavião a jato era encomendado do outro lado do Atlântico, pela US Navy. Um projeto muito mais gracioso do que o desajeitado baiacu britânico, e que também foi fadado ao fracasso por não ter necessidades operacionais que o justificassem (dizem que seu desenvolvimento foi motivado mais por “ciúme” da US Navy em relação à USAF). Trata-se do Convair FY-1 Sea Dart, que já foi objeto de artigo na versão anterior do Blog do Poder Naval, que você pode acessar clicando aqui.
Para ver o artigo o anterior desta série, clique aqui.