Caças bizarros que quase vingaram parte 3

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SUD-EST SE 100: o “croissant voador”

Em homenagem à visita do Presidente da França ao Brasil, a terceira parte desta nossa série é dedicada, apropriadamente, a um caça francês. Lembramos que esta série não trata de idéias apenas diferentes, inovadoras e, principalmente, bizarras, mas de projetos que além disso tudo foram levados a sério (às vezes até mais do que mereciam) e por muito pouco não vingaram. Mas esse caça pesado francês, aparentemente, mereceu ser desenvolvido.

A 2ª Guerra Mundial já despontava no horizonte quando surgiu uma especificação para um sucessor do Potez 631, caça bimotor que lutou bravamente até a queda da França e que depois continuou servindo à Força Aérea de Vichy. Contrastando com o seu antecessor submotorizado (dois Gnome-Rhône radiais de 660hp cada) e que era bastante similar em configuração a diversos caças pesados da época, como o Bf-110, os projetistas Mercier e Lecarne responderam à especificação com um caça que buscava aproveitar ao máximo a potência dos motores Gnome-Rhône 14N de 1030hp. Surgia o design inovador do SE-100.

A fuselagem compacta mas de grande volume interno, com perfil de meia-lua, comportava até 3 tripulantes e um pesado armamento: 5 canhões de 20mm, sendo quatro no nariz e um instalado próximo à cauda, operado pelo artilheiro de ré. A cauda era dupla e baixa, favorecendo o ângulo de tiro dessa quinta arma e incorporava uma curiosa inovação: as duas pequenas rodas posteriores do trem de pouso triciclo retraíam para dentro dos dois estabilizadores, numa solução bastante radical. Já o trem de pouso dianteiro (direcionável) era desproporcionalmente grande e de aparência complexa. As posições dos tripulantes (dois para missões diurnas e três para noturnas) eram ligadas por uma passagem pela qual se podia engatinhar.

O primeiro vôo deu-se em 29 de março de 1939 e, como resultado dos testes subseqüentes, mais uma complexidade teve que ser adicionada: um estabilizador vertical retrátil, instalado na barriga do avião. Não obstante, com essa e outras modificações a velocidade máxima subiu de 560 km/h para 580 km/h. A envergadura deste primeiro protótipo era de 15,7m, com 11,8m de comprimento, 4,28 de altura e peso máximo de 7.500 kg (o dobro do avião que iria substituir).

Esse primeiro protótipo acidentou-se em abril de 1940, mas nessa época um segundo estava em construção e, além disso, a fábrica da Citröen nos arredores de Paris já preparava o ferramental para a produção de um lote de 300 caças SE-100. O segundo protótipo eliminou a ligação entre as posições dos tripulantes para aumentar a capacidade de combustível na fuselagem, introduziu asas totalmente metálicas (no primeiro, eram de madeira) e aumentou o armamento para incríveis 9 canhões de 20mm: seis no nariz, dois em uma torreta dorsal e um na posição de ré.

Mas nem a produção pela Citröen nem a finalização do segundo protótipo vingaram. Logo Paris era ocupada pelo Exército Alemão e o projeto, que previa até uma variante com motores P&W Twin Wasp de 1.200 hp, parou por aí.

Nota do Blog: o apelido de “croissant voador” é mais uma das licenças poéticas deste autor, que estava com fome quando escreveu este artigo. Se bem que não seria de se estranhar que algum contemporâneo, olhando o bizarro avião, já lhe tivesse dado a alcunha. Fica a dica para pesquisadores esforçados e dispostos confirmarem esta hipótese. Bon appétit, ou melhor, boa pesquisa!

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