Embraer demitirá 4 mil empregados
A crise global afetou em cheio a terceira maior fabricante de aviões mundial. A direção da Embraer decidiu demitir cerca de 20% de seu efetivo em janeiro de 2009, o que representará algo próximo a 4 mil funcionários. As listas de dispensas estão sendo preparadas pelos departamentos da empresa e abrangerão todos os setores, tanto administrativo como o operacional da companhia.
A última grande demissão da companhia ocorreu no final de 1990, com a dispensa de 4 mil empregados em meio a maior dificuldade financeira passada pela então estatal. Na época seu quadro registrava 12 mil funcionários. Na privatização, em 1994, o efetivo era de 5,2 empregados.
A empresa mantém sigilo absoluto sobre a ação que será consumada nas primeiras semanas do próximo mês. A necessidade da ação de dispensa teria ocorrido em meados do mês passado depois de várias análises de mercado. Os dirigentes da Embraer perceberam que somente uma ação mais drástica conseguiria conter a acelerada redução no fluxo do caixa da companhia devido a cancelamentos e postergações de compras firmes.
No entanto, os efeitos da crise sobre a carteira de pedidos são mantidos longe do conhecimento público. Porém, a medida de contenção de custos motivou o comunicado do presidente Frederico Curado aos funcionários, no qual ele demonstrou toda a preocupação com os impactos da crise global. ” Em outras palavras, a existência de uma boa carteira de pedidos – um ponto forte da Embraer – já não é suficiente para assegurar produção e receitas futuras. A capacidade dos clientes de obterem financiamento e efetivamente receberam as aeronaves que contrataram é que irá ditar, por um bom tempo, o ritmo e o nível de produção dos fabricantes”, afirmou o executivo no documento.
Pelo balanço financeiro da Embraer, em setembro deste ano seu quadro funcional apresentava 23.745 empregados em todo o grupo – três fábricas no Brasil, uma na China, em Portugal e postos de atendimento ao cliente em todos os continentes. Sua carteira de pedidos firmes era de US$ 21 bilhões. Desde o primeiro semestre já foi constatado um excedente em torno de 2 mil empregados e a empresa vinha demitindo aos poucos.
Fornecedores convocados
Ontem a direção da Embraer reuniu 100 dos maiores fornecedores indiretos, a maioria de prestadores serviços de segurança patrimonial, restaurantes, manutenção das instalações entre outros, para expor a situação. O encontro foi realizado nas instalações de Eugênio de Mello, em São José dos Campos. A empresa pediu para que todos se esforçassem para diminuir seus custos nos serviços prestados e adotassem medidas de contenção de despesas.
O mesmo já foi feito com os fornecedores de sistemas e peças aeronáuticas, já que a demanda seria reduzida. A orientação surtiu efeitos imediatos e criou um clima de apreensão nos parceiros aeronáuticos. A Graúna Aerospace, que produz para a Embraer, anunciou no último dia 2 a demissão de 47 funcionários de sua unidade em Caçapava.
A unidade fabril mais atingida será a matriz, em São José dos Campos, onde se concentra grande parte do pólo aeroespacial. A queda na cadência produtiva da Embraer para o próximo ano será em torno de 30% e o novo volume de levou à revisão do volume de entregas programadas para o período, saindo de 350 para 270 jatos.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos se reuniu na última terça-feira com a direção da Embraer para discutir a compensação para 2009 e os efeitos da crise econômica mundial na empresa.
Na ocasião, a empresa informou estar adotando medidas de redução de custos para minimizar os efeitos da crise. Entre elas está o cancelamento de serviços que são feitos por terceirizadas, o cancelamento do programa de estágios em 2009 e a não renovação dos contratos de estágio vigentes.
Para o diretor sindical, Ivan Trevisan, a demissão em massa confirma os boatos recorrentes na fábrica, mas causa espanto. ” Fomos pegos de surpresa, achávamos que as demissões fossem acontecer a longo prazo, com a reestruturação produtiva e os efeitos da crise no setor”, explicou.
Uma das possibilidades aventadas pelos sindicalistas é que essa seja apenas uma etapa de um processo maior, que seria revisto ao longo do ano de 2009 conforme o agravamento da crise internacional e o comportamento do mercado de aviação. Isto poderá resultar, inclusive, no enxugamento ainda maior do quadro de empregados caso se mantenha um cenário de retração no setor.
Para o secretário geral do sindicato, Luiz Carlos Prates, os boatos eram muitos dentro da empresa e todos falavam em demissões em massa. “Mas quando vimos a carta já pensamos que haveria essas dispensas. Vamos nos mobilizar para que isto não aconteça. Estamos com uma campanha sobre a manutenção dos empregos e vamos falar com os governos estadual e federal para conter esse tipo de reflexo da crise junto aos trabalhadores”.
Fonte: Gazeta Mercantil