Ex-caçador noturno da Luftwaffe encontra sobrinho de piloto que abateu

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“…eu sei que ele e meu tio teriam sido grandes amigos”, disse Jay Hammond, o sobrinho, sobre Martin Drewes.

Leia a seguir trechos de reportagem de ontem escrita por Ricardo Bonalume Neto, para o jornal Folha de São Paulo, com detalhes sobre esse interessante encontro.

Na noite de 12 para 13 de maio de 1944, o piloto de caça alemão Martin Drewes causou a morte do canadense Wilbur Boyd Bentz, piloto de um bombardeiro Halifax da RCAF (Real Força Aérea Canadense), então com 24 anos de idade. Jay Hammond, 55, sobrinho de Wilbur, visitou no Brasil há alguns dias o homem responsável pela morte do tio e participou das comemorações do 90º aniversário de Drewes.

“Minha mãe morreu em 1984. Descobri que ela estava se correspondendo com Ottawa para tentar saber mais sobre a morte do seu único irmão. Mas não havia pistas”, disse Hammond à Folha quando passou por São Paulo. Sabia-se apenas que ele morrera durante ataque aéreo à cidade belga de Louvain (nome francês) ou Leuven (nome flamengo).

 

Foram achados na época os corpos de 5 dos 8 tripulantes mortos, enterrados então na Bélgica em Grammont (ou Geraardsbergen). Entre os desaparecidos estava o tio de Hammond.

Em 1985, o canadense, com ajuda de um pesquisador belga, Jacques De Vos, descobriu que fora Drewes, que pilotava um caça noturno Messerschmitt Bf 110, o responsável pela destruição do Halifax matrícula LW682 do 426º Esquadrão. Hammond descobriu que o alemão morava no Brasil, criou coragem e telefonou para ele. “Martin foi muito apologético, um cavalheiro”, lembra. Hammond conseguiu mais detalhes sobre o combate com o operador de radar do Bf 110, Erich Handke. A busca continuou em 1988 com uma visita ao local onde o avião havia caído, com ajuda de um amigo belga. Hammond conseguiu pegar até mesmo pedaços do Halifax, o que o deixou comovido. E, ao ver o terreno pantanoso, concluiu que havia chances de resgatar os corpos que faltavam.

Hammond pediu ajuda a um piloto canadense especialista em resgatar aviões da Segunda Guera, Karl Kjarsgaard. Com ajuda da Associação Belga de História da Aviação -e verba do governo canadense- foi possível finalmente escavar o local em 1997. Em pouco tempo foram achados mais pedaços do avião e objetos pessoais -como um relógio marcando 0h38, hora britânica no momento da queda. E logo se topou com os esperados restos humanos.

Em 10 de novembro de 1997 foi feito o enterro dos três últimos aviadores com as devidas honras militares. Hammond convidou para a cerimônia Drewes, que aceitou. Foi a primeira vez que se encontraram ao vivo; a segunda foi agora, em São Paulo. “Ele não me acusou pela morte do tio, apenas constatou”, diz Drewes. Durante o enterro, um militar canadense disse a Drewes: “Você cumpriu seu dever”.

“As pessoas têm dificuldade para entender, acham que eu deveria ter raiva”, diz o biólogo canadense. “Ele estava fazendo seu trabalho, meu tio fazia o dele. Conhecendo o Martin hoje, eu sei que ele e meu tio teriam sido grandes amigos”.

Fotos: Avions Legendaires

Nota do Blog: recentemente, a Adler Books editou o livro “Sombras da Noite”, autobiografia de Martin Drewes, que agora está em sua segunda edição. Para mais informações sobre o livro, clique aqui.

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